quinta-feira, 4 de junho de 2020

4586) Paulo Leminski comenta a atual conjuntura (4.6.2020)






(“Catatau”, 3ª. edição, Curitiba, Travessa dos Editores, 2004)


“Sempre se consegue pôr o que tenha que ser assim em palavras que a gente trazia aqui dentro, que não se sabiam lá, isto é, hoje não me consigo fazer entender.” (p. 125)

“Só porque uma coisa se assemelha a uma vizinha, o mais provável é que todas as demais coisas se pareçam com ela ou é mais provável que as ditas coisas difiram muito dela? Falamos de ambas as coisas, porém diferentes no modo de agir, iguais em tudo, menos em todo o resto e, como se isso não bastasse, ainda por cima, simples variantes de uma variedade maior: estamos falando de duas coisas diferentes sobre o mesmo assunto.” (p. 141-142

 “É assim que as coisas significam? Mas então papai mentiu, mamãe corrigiu errado, vovô voou, titio avestruza a cabeça no buraco do tatu.” (p. 200)

“De tanto fazer tudo fazer tanto, fez-se como tanto faz.” (p. 127)

“Interrompemos nossa programação para dar margem a um apelo. Babel, urgente. Precisa-se de um poliglota, paga-se regiamente. Agora só falta batizar de Baltazar o rei desta Babel, até os limites extremos de sua incompetência, quando será coroado, prêmio de serviços inadiáveis, administrando fatalidades.” (145)

“Alta a sombra das bandeiras sobre as covas rasas.” (p. 252)

“De qualquer forma, já que eu não me salvo, vou dar o máximo de oportunismos ao meu desespero.” (p. 76)

“Fedo sangrando, lacrimo, durmo, acordo e desmaio.” (p. 86)

“Mais carinho, trata-se do mundo, uma máquina cuja peça principal é minha cabeça!” (p. 148-149)

“O futuro vem de fora. Dentro está que é uma atualidade só.” (p. 244)

“Só continuar não basta: outros verbos mais capazes, conspirar, infiltrar-se!” (p. 242)

“Mas advirta que a tortura não deve chegar aos ossos, osso já não é gente.” (p. 129)

“O ladrão tirando quase tudo, e deixando tudo no lugar.” (p. 251)

“Ao desertor, os desertos!” (p. 173)

“Cartésio. Nosso homem em Brasília. Dizer que fui quase cartuxo, o fantoche.” (p. 251)

“Não tem cara de quem sabe o que diz, dirá assim só para não saltar a vez?” (p. 104)

“Atira e retira o tiro?” (p. 178)

“Chancela e depois cancela, isso cansa.” (p.148)

“O bicho de sete cabeças tem o entendimento meio mal distribuído.” (p. 114)

“Cara que brisa de Brasília baforou, nem quem me enfarofou.” (p. 131)

“A máscara está na cara, só não vê quem não usa!” (p. 105)

“Para bem entender, meia palavra não é de bosta nenhuma, bom entendedor faz o que bem entender.” (p. 132)

“Já, mas não ainda.” (p. 252)

“O passado, mais perto que o supunha” (p. 139)

“Vivemos procurando soluções apocalípticas para questões da alçada do bom senso.” (p. 240)

“Chegou mais rápido que uma coincidência.” (p. 254)

“Saber não basta, carece corromper, comprometer e ameaçar o que existe. Para isso, parece que esse mundo é bom.” (p. 87)

“Paz, pelo jeito, ninguém aqui está querendo, não está vendo?” (p. 134)

 “Quem for valente que se levante: ao vigilante só se surpreende suprimindo-o.” (p. 136)

 “O único subterfúgio é não se deixar envolver, e procurar refúgio num desses labirintos que vêm vindo aí com cara de poucos amigos: neste!” (p. 143)

“Adeus, capitão! Partam sossegados, intercederei por vós lá no céu, e apontou para o alto, donde em pleno gesto escorre o raio que o fulmina.” (p. 145)

“Ainda que me pergunte: caiu em si e não voltou pra o convívio alheio?” (p. 87)

“Algum tanto estive prestes, mediterrâneo entre um lugar comum e um posto avançado, a reanimar com acenos de alimentos uns restos de entusiasmos desfeitados pela intervenção de contratempos.” (p. 131)

“Como os vivos riem forte dos mortos!” (p. 183)

“Posso querer ir aí e falar isso, penso que sei mas falando substituo minha certeza pelos azares da comunicação.” (p. 138)

“Uns catiripapos, e a criatura fica parecida com a caricatura.” (p. 144)

“Por aqui, Alteza, cuidado a viga, o vigia não tem mais onde pôr os olhos senão conosco, juro que não conosco, pela luz que lá em cima nos alumiou, poupe-me o vexame, vê lá o que faz, assim não ingrassaremos em Praga a tempo de desvendar a defenestração impedir o trânsito e interromper a metamorfose, a ejaculação precoce e o enterro prematuro”. (p. 160)

“Amanhã cedo, todos nós, amanhecendo, nos conheceremos.” (p. 253)











Um comentário:

RANGEL JUNIOR disse...

Arretado! Um conjunto de pérolas. Esta daqui caberia tranquilamente a Nostradamus! Parece um país que conheço. kkk

“Interrompemos nossa programação para dar margem a um apelo. Babel, urgente. Precisa-se de um poliglota, paga-se regiamente. Agora só falta batizar de Baltazar o rei desta Babel, até os limites extremos de sua incompetência, quando será coroado, prêmio de serviços inadiáveis, administrando fatalidades.” (145)