(Leminski, por Marcos Guilherme)
Já vi esse tipo de poema descrito como “poeminha
leminskiano”. O curitibano Paulo Leminski não o inventou, mas é um dos seus
melhores executantes.
Ninguém inventa essas coisas, essas formas simples. Esse formato difuso brotou junto com os poetas da minha geração, os que começaram a divulgar seus poemas nos anos 1970 e nos 80 já estavam em livro.
Eu fiz um monte deles, todo mundo fez um monte, e com frequência vemos belas coisas sendo ditas.
Leminski é candidato à faixa de melhor fazedor, com preciosidades como:
Ninguém inventa essas coisas, essas formas simples. Esse formato difuso brotou junto com os poetas da minha geração, os que começaram a divulgar seus poemas nos anos 1970 e nos 80 já estavam em livro.
Eu fiz um monte deles, todo mundo fez um monte, e com frequência vemos belas coisas sendo ditas.
Leminski é candidato à faixa de melhor fazedor, com preciosidades como:
pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar.
Ou essa fotografia zen:
o barro
toma a forma
que você quiser
você nem sabe
estar fazendo apenas
o que o barro quer.
Esses movimentos de ida e volta do poema se mantêm mesmo quando cada bloco fica menor em tamanho:
um pouco de mao
em cada poema que ensina
quanto menor
mais do tamanho da china.
Isto é o poema curto em dois blocos. Tem um desenlace rítmico diferente da sextilha, diferente do haicai. Estruturalmente, corresponde mais ou menos a duas quadrinhas (ou tercetos, ou dísticos, misturadamente) superpostas, resultando num poema de 6 a 8 linhas no total, com uma cesura ao meio.
O verso do meio e o último (o 4o. e o 8., digamos) rimam entre si. Este efeito é mais importante do que o numero total de versos, e se eles rimam internamente entre si ou não. É como se o poema mostrasse a cara, depois a coroa, e tudo rimasse. Um vapt e um vupt. Um zás e um trás.
O primeiro bloco pode ter de uma a quatro linhas, raramente
mais, linhas que exibem rimas ou não, e ele se conclui com uma linha onde é
proposta a rima que deve se repetir no final.
A leitura desse primeiro bloco deixa uma expectativa rítmica e sonora a ser preenchida pelo segundo. Quando ele o faz, fecha o poema com um senso de resolução melódica e simetria estrutural.
O perigo de tal verso é apenas, como o de toda forma simples, o de ser muito acessível ao versejador preguiçoso ou sem muito o que dizer.
Ainda Leminski, este com um alô de chapéu a Yeats:
eu tão isósceles
você ângulo
hipóteses
sobre o meu tesão
teses sínteses
antíteses
vê bem onde pises
pode ser meu coração.
Este, sobre a bolandeira do fazer versos:
moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia
vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia.
E esta declaração de guerra em forma de cambalhota:
o pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique.
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