Eu me lembro do cheiro do ambiente do caldo de cana Macaíba, e das páginas de revistas com curiosidades, mistérios e bizarrices, emolduradas, na parede da sinuca O Gato Preto.
Eu me lembro que em Campina Grande já se fabricou a cachaça “Galo da Borborema”; eu tinha uma garrafa em casa, da qual derramei o primeiro conteúdo e substituí por Rainha.
Eu me lembro de uma foto (na Manchete ou no Cruzeiro) mostrando que o número 1961 continuava o mesmo se fosse virado de cabeça pra baixo.
Eu me lembro que o primeiro lugar em que se venderam livros
de bolso em Campina foi no Abrigo Maringá.
Eu me lembro quando a comitiva
presidencial com Juscelino em carro aberto passou pela nossa casa subindo a rua
Miguel Couto, rumo ao centro.
Eu me lembro de uma mendiga de chapéu que pedia
esmolas de pé na Rua Maciel Pinheiro; ela tinha o rosto deformado e eu, que
teria uns dez anos, morria de medo de avistá-la.
Eu me lembro de quadrinhos de Gabby Hayes, C.B., Morcego
Negro, Flecha Ligeira, Flecha Certeira, Rocky Lane e Falcão Negro, o qual
depois eu soube ser criação do paraibano Péricles Leal.
Eu me lembro de um
cachorro doido nos poços das lavadeiras no Alto Branco, e quem o matou de
espingarda foi nosso vizinho Zezinho Buraco, ex-zagueiro do Treze.
Eu me lembro
dos animais empalhados na vitrine da loja Palacinho da Criança.
Eu me lembro da
caixa de sapatos cheia de diferentes tabelas da Copa de 1966 que eu guardava
embaixo da cama.
Eu me lembro de Mário Rogério e seus amigos cantando e
tocando violão à noite, no alto do edifício Abdallah, a alguns metros do portão
da nossa casa na rua Padre Ibiapina.
Eu me lembro da cartola do Preguéto, do
cachorro quente do Cisne Lanches, do sorvete da Capri e da cabeça-de-galo de
Zuzu.
Eu me lembro do fim das terças-feiras de Carnaval no Gresse, quando, ao
amanhecer da 4a.feira de Cinzas, a orquestra descia a ladeira
tocando rumo à Praça da Bandeira, onde Ivan Gomes atirava os bêbos dentro da
fonte.
Eu me lembro do baterista que tinha sido mordido de cachorro doido e agora tinha que tomar injeções na barriga.
Eu me lembro dos certificados de censura dentro de envelopes pregados à face interna da tampa das latas de filme em 35mm, e que o gerente deixava a gente ler e anotar.
Eu me lembro das pessoas que trabalharam com meu pai: Edson da Federação, Seu Sebastião contínuo, depois Seu Lisboa motorista, Albanisa a eterna secretária.
Eu me lembro do garçom Espanha, do taxista Luizinho e de Henrique da banca de revistas do Calçadão.
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