O ano era 1976, e o Treze tinha um ataque que incluía João Paulo, Soares e Gil Baiano. Que outra coisa importante aconteceu no Brasil ou no mundo nesse ano? Eu, por mim, respirava futebol, cinema e cantoria de viola, em doses equivalentes e maciças. Ano de Congresso dos Violeiros, de muitas cantorias em bairros remotos de Campina, de muita conversa em torno de verso e em torno de livro.
Foi por volta dessa época que Ivanildo Vila Nova me visitou
no apartamento onde eu morava, perto da Rodoviária velha. Ele estava chegando
de uma viagem à Bahia, e perguntou se eu conhecia um cantor chamado Elomar
Figueira de Melo. Falei que não, e ele cantarolou trechos de “lá na casa do
Carneiros / onde os violeiros / vão cantar louvando você...” e do “já que tu
vai lá pra feira / traga de lá para mim...”
Foi a primeira vez que escutei os versos do Bardo de Conquista. E
Ivanildo completou: “Não tem palavras que descreva esse homem, o jeito
verdadeiro dele. E quando pega o violão e canta as coisas dele, então... É um
apocalíptico”. Isso colou e virou um parâmetro. Tempos depois, quando mostrei a
Ivanildo a versão acústica, original, de Bob Dylan cantando “It’s alright, Ma”,
ele apontou na mesma hora e disse: “Apocalíptico também.”
Como se diria numa saudação oriental: “O poeta remoto e
antediluviano que escuta em mim reconhece, saúda e homenageia o poeta
antediluviano e remoto que fala através de ti.” A poesia, cantada ou escrita, tem a sorte de parecer com a
música. Pra quem quiser buscar a complexidade o céu é o limite, mas ao mesmo
tempo tem uma área acessível à simples aplicação da técnica. É relativamente
fácil fazer um bom verso. O que não é fácil é produzir versos de qualidade
consistente, não importam as fases da inspiração e as marés da profissão, ao
longo de muito tempo.
Ivanildo Vila Nova está fazendo 70 anos. Tem mais que o
dobro do que tinha quando o conheci. Tem havido homenagens não somente ao
grande repentista que é, mas também ao líder combativo, sem papas na língua,
reivindicador, que trabalhou muito para que tanto a sociedade quanto o cantador
vissem com olhos melhores o próprio cantador. Amigo exigente com todos e
consigo mesmo. E o verso, como se sabe, uma navalha.
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