sábado, 30 de maio de 2015

3828) Um livro de presente (31.5.2015)



Ganhar livros no aniversário? Beleza! E dar livros no aniversário dos outros pode ser melhor ainda. Presentear livros pressupõe que o aniversariante goste de ler, e que a gente saiba que tipo de livro ele prefere. Já me ocorreu encontrar um livro num sebo, durante uma viagem, comprá-lo, e ficar meses com ele esperando o aniversário de Fulano para fazer-lhe uma surpresa. Pra mim, presentear dessa forma é muito melhor do que passar correndo num shopping, no fim da tarde, para comprar uma coisa qualquer no trajeto para o aniversário de Fulano. Presente não devia ser a obrigação de um dia. Não devia ser, como diz um piadista amigo meu, “o crachá pra entrar na festa”. Devia ser uma coisa de pessoa para pessoa, independente de festa, de data, de compromisso. Entro numa livraria em São Paulo e vejo um livro daquele poeta obscuro que minha amiga Fulana, da Bahia, vive procurando sem achar. Pegar esse livro ali, na hora, pra mandar pra Fulana (mesmo sem aniversário) me parece um gesto de carinho muito melhor do que o “crachá” comprado às pressas.

Como falei, tem que ser um livro personalizado, que tenha a ver com o destinatário. Não vou fazer como outro amigo, que deu de presente à esposa (que nem lia francês) as obras completas de Baudelaire, o poeta preferido dele. Chamo a isso “presente de gringo”. Gringo só faz um favor a você quando sai ganhando alguma coisa com isso. Eu posso não ser fã de Star Trek, mas se meu amigo Sicrano é fã da série e ainda não tem o livro que acabou de sair, por que não levar esse livro para ele?  Presente é pra quem ganha.

Tem outro aspecto interessante no caso mais raro (mas que é o meu) de quem publica os próprios livros. Gosto de dar um livro meu de presente no aniversário de alguém; acho que isso é mais personalizado ainda, porque não é somente algo que eu escolhi, é algo que escrevi, e existe aquela sensação de estar oferecendo metaforicamente um pouco de mim àquela pessoa. Claro que continua a valer a regra do interesse, porque não vou dar um livro de poemas meus a quem não lê poesia, ou de FC a quem não gosta de FC.

E pensando bem, quando damos um livro nosso de presente, esse presente acaba funcionando em mão dupla. Queremos dar aos nossos amigos o prazer de ler um livro nosso, mas queremos também dar a nós mesmos o prazer de contar com a leitura deles. É um presente recíproco, porque dar um livro nosso é pedir em troca a leitura, a atenção, o tempo precioso dos nossos amigos. Queremos seus olhos, sua mente. Um livro presenteado assim é um presente em mão dupla, e às vezes o maior presente que damos a alguém é a leitura do livro que ele nos presenteou.




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