segunda-feira, 13 de abril de 2015

3787) Best-sellers (14.4.2015)



Poucos termos do mercado editorial são usados de maneira tão frouxa quanto este. “Best seller” significa, ao pé da letra, “o que vende melhor”. É uma indicação puramente numérica, quantitativa, que diz respeito a quantos exemplares um livro vendeu durante um certo período. “Best seller” não é sinônimo de livro de auto ajuda, nem de thriller de ação, nem de história apimentada sobre a vida sexual de gente rica, nem de romance de fantasia heróica.  Qualquer um desses pode eventualmente aparecer nas listas de best-sellers, mas ser de algum desses gêneros não é garantia de que o livro vai vender. (Muita gente acha que quem vende é o gênero, aí produz um livro meia-bomba, num gênero que conhece mal, achando que o gênero vai vender o livro sozinho. Se vendesse todo mundo era rico.)

Nenhuma editora e nenhum autor sabem o que faz um livro vender muitos exemplares; se soubessem, usariam essa fórmula o tempo inteiro, com o mesmo efeito que tem a macumba do campeonato baiano. Todos acham que sabem, aplicam a fórmula, geralmente dão com os burros nágua, e na semana que vem tentam de novo. O mercado editorial cria seus sucessos na base da tentativa-e-erro, e é bom que seja assim. No dia em que conseguiram produzir uma fórmula pra valer, acabou-se a literatura.

Acho fantasia pura essas listas de best-sellers que aparecem nas revistas e nos jornais. Nem preciso aventar hipóteses de jabá e payola, para dizer que aquele título está vendendo muito, e mediante isto fazer as vendas decolarem. (Na música, tem todos aqueles prêmios que são entregues a quem vende mais numa série de faixas de mercado. Com o passar do tempo, os brindes deixam de ser um prêmio pelo bom desempenho e tornam-se uma maneira de chamar a atenção sobre o artista e puxar as vendas até alcançar o número necessário.)

E fiquei por aqui, remexendo na memória e pensando em best-sellers antigos. Posso estar enganado num ou noutro título, mas, pelo que me lembro, todos estes livros apareceram durante algumas semanas seguidas nos primeiros lugares das listas brasileiras de best-sellers. Pode-se não gostar deste ou daquele, mas ninguém dirá que são livros “picaretas”, voltados ao consumo fácil. Entre os best-sellers que recordo terem vendido muito no Brasil, estão A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera, Dicionário Khazar de Milorad Pavic, A Vida Modo de Usar de Georges Perec, O Nome da Rosa de Umberto Eco, A Grande Arte de Rubem Fonseca, Galvez, Imperador do Acre de Márcio Souza, Cem Anos de Solidão de Garcia Márquez, Poesia de Paulo Leminski...  Todos são best-sellers; todos, em algum momento, venderam muito, para muitos leitores.




Um comentário:

Giovanni Gouveia disse...

Melville não vendeu Moby Dick em vida, Call of Wild, de Jack london, o primeiro best seller nos isteites... amo ambos. Desconfio não o que é mercado editorial...