quinta-feira, 2 de abril de 2015

3778) Trilogia Comando Sul (3.4.2015)



Um dos projetos de tradução em que estou envolvido desde o ano passado é o da trilogia Southern Reach (“Comando Sul”), de Jeff VanderMeer, que está sendo publicada no Brasil pela Editora Intrínseca. O primeiro volume, Aniquilação (“Annihilation”) já saiu. No momento, estou finalizando a tradução do segundo volume, Autoridade (“Authority”). O terceiro, Aceitação (“Acceptance”) deverá sair no fim deste ano ou começo do ano que vem, mas por questões de cronograma talvez venha a ser traduzido por outra pessoa.

O primeiro livro é o diário de uma bióloga (os personagens não recebem nomes) membro de uma expedição à Área X, uma região misteriosa que, há mais de trinta anos, foi isolada do mundo por uma barreira invisível, com apenas um pequeno portal por onde os EUA (isto se dá mais ou menos no litoral da Flórida) enviam expedições sucessivas para investigar. As expedições são às vezes exterminadas com violência por forças desconhecidas, ou então seus membros se matam uns aos outros, ou voltam todos incólumes mas desmemoriados, incapazes de dizer algo útil sobre o que viram, e morrem rapidamente de um tipo raro de câncer.

Não vi nas entrevistas de VanderMeer nenhuma referência ao cinema de Andrey Tarkovsky, mas sua trilogia me lembra em primeiro lugar o filme Stalker (sobre uma área igualmente misteriosa e inacessível, bloqueada pelo governo, e que produz em quem a invade uma espécie de estado alterado de consciência) e a certa altura também Solaris (um ambiente que produz réplicas semi-conscientes de pessoas reais).  Mas o foco de VanderMeer muda no segundo livro. Autoridade ocorre fora da Área X, nas instalações do Comando Sul, a agência do governo (ligada à CIA) a quem cabe investigar o mistério. O novo protagonista, Controle, é o chefe recém-nomeado das investigações, perdido num labirinto kafkeano de burocracia e conspirações políticas, enquanto tenta fazer sentido dos fatos espantosos daquela área onde surgem “anomalias topográficas” (uma torre invertida, entrando de chão adentro, etc.) e onde pessoas e animais parecem sofrer mutações espantosas e aceleradas.

VanderMeer tem uma prosa rica e precisa, principalmente no primeiro livro, que é mais enxuto e mais evocativo. Sua obra (City of Saints and Madmen, Secret Life, etc.) sempre se destacou por se voltar para a biologia, a botânica, a oceanografia; é uma FC do planeta Terra, ou de planetas semelhantes à Terra em sua biodiversidade bizarra. Sua trilogia mostra um mistério científico espantoso relegado a segundo plano (de verbas, orçamento, pessoal, etc.) num mundo caótico, consumido pelo terrorismo e pela crise econômica.

Um comentário:

Paulo Rafael disse...

Na trilogia, o Volume 1, Aniquilação, é bom e completo em si mesmo. Não seriam necessários os outros dois volumes que quase nada acrescentam à história. O Volume 2 não anda, é tediosíssimo. O Volume 3 é menos tedioso e acrescenta apenas uma ou duas informações relevantes ao contexto da história. Perda de tempo ler os volumes 2 e 3.