(túmulo de Billy Wilder)
Billy Wilder, roteirista e diretor alemão, fugiu do
nazismo e veio parar bastante jovem em Hollywood, onde dirigiu filmes como Pacto
de Sangue (1944), Crepúsculo dos Deuses (1950), A Montanha dos 7 Abutres (1951), Quanto mais quente melhor (1959) etc. Numa série de entrevistas para Cameron Crowe,
Wilder deu várias dicas de como construir uma história para o cinema. São dicas
que valem para a arte da narrativa em geral: literatura, HQ, teatro, etc.
Dizia ele: “Quanto mais sutilmente você esconder os
detalhes essenciais do seu enredo, mais competente você é como escritor”. E
dizia também: “Uma dica de Ernst Lubitsch: deixe a platéia somar dois mais
dois, e ela vai amá-lo para sempre”. São
duas dicas importantes e aparentemente contraditórias. Na primeira, ele nos diz
para esconder elementos importantes da platéia, pegá-la de surpresa. Ocultar
dados essenciais de maneira sutil, às vezes deixando-os à mostra, sem lhes dar
importância, mas fazendo o público registrar a informação, para lembrar dela no
momento da surpresa. Na hora do perigo, quando o mocinho achar a arma que vai
salvá-lo, a arma tem que ter sido mostrada, sob outro pretexto, lá no começo da
história; mas houve fair-play. “Eu mostrei, vocês é que não deram a devida
atenção”.
Wilder diz também: faça o público tirar suas conclusões,
sem lhe dar a resposta. Dê apenas as pistas. Obrigue-os a ficar de olho em
tudo. Quando o espectador deduz algo e vê essa dedução confirmada, ele se acha
inteligente, e com isso acha o diretor inteligente também. Raymond Chandler
citava como bom exemplo de roteiro esta cena, cujo objetivo era mostrar um
casal em crise. Marido e esposa entram no elevador. Marido de chapéu na cabeça.
Elevador para noutro andar. Entra uma mulher. Marido tira o chapéu,
cavalheirescamente. O roteiro fornece o 2+2 e a conclusão é por conta da
platéia: ele não dá a mínima para a esposa. (O exemplo é dos anos 1940: como
seria um exemplo equivalente para 2014?)
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