(Nabokov, O original de Laura)
O último livro deixado (incompleto) por Vladimir Nabokov foi O original de Laura. O livro existia apenas em forma de textos curtos em
cartões pautados, essas fichinhas retangulares que a gente encontra em qualquer
papelaria, em diferentes tamanhos. Houve
uma polêmica sobre autorização, mas afinal, publicou-se o livro (a edição
brasileira é da Alfaguara, tradução de José Rubens Siqueira), com a reprodução
de cada cartãozinho manuscrito.
Há escritores que fazem isso atribuindo um número ou sigla
para cada episódio da ação, escrevendo-os em cartões e pregando todos na
parede, onde é mais fácil brincar com sua ordem cronológica. Em ambos os casos existe a percepção clara,
antes mesmo de começar a escrever, que aquilo é uma unidade em si mesma, algo
para ser trabalhado com sua própria sequência de efeitos. Como acontece com uma estrofe na poesia.
Raymond Chandler também usava cartões, para disciplinar a
prosa. Disse ele em 1957: “Eu faço todo o meu trabalho em papel amarelo, folhas
cortadas ao meio, datilografadas ao longo do eixo maior, espaço triplo. Essas páginas devem ter entre 125 e 150
palavras, e são tão curtas que a gente não consegue ser prolixo. Se não houver alguma substância num trecho
desse tamanho, tem alguma coisa errada.”
Chandler talvez pensasse tanto em termos de prosa quanto de
enredo, mas mesmo um autor de prosa acelerada e pouco refletida como A. E. Van
Vogt costumava dividir suas histórias em blocos de 800 palavras de pura ação;
chegado esse limite, era preciso dar uma reviravolta na narrativa. Van Vogt avisa (no seu ensaio “Complications
in the Science Fiction Story”, 1947) que são 800 para ele, mas para outro
escritor podem ser seiscentas ou mil.
Muitos praticantes na FC do século passado tinham essa visão
de uma história em blocos. Nenhum a teorizou tão bem como Lester Dent, o
criador de Doc Savage, que em 1936 publicou um texto, conhecido como “Master
Plot”, que forneceu sua fórmula mágica para histórias em torno de 6 mil
palavras (tamanho ideal, achava ele).
Para Dent, a história se dividia em quatro segmentos bem nítidos (que
ele explica em detalhe) com 1.500 palavras cada um. Diz ele que depois recebeu
780 cartas de jovens escritores agradecendo-lhe por terem seguido sua fórmula e
conseguido vender sua primeira história de pulp fiction. (Sim, tudo isto
está na Web.)
Um comentário:
gostei do assunto. Lembrou "A filosofia da composição" do Poe.
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