O ladrão é um personagem clássico das histórias de aventuras. Meu preferido talvez seja o "Ladrão de Casaca”, Arsène Lupin, criado por Maurice Leblanc, grande sucesso popular da França entre 1905-1935. Arsène Lupin é o mais intrigante e o mais complexo desses “cambrioleurs” das altas rodas. São indivíduos charmosos e perigosos infiltrando-se entre políticos, nobres e milionários, confrontando todos, travando duelos de morte, aplicando-lhes golpes, e sempre se dando bem. Criptógrafo, boxeador, rei dos efeitos especiais (disfarces e máscaras eram com ele mesmo), Lupin era uma resposta francesa ao inglês Sherlock Holmes, e na obra de Leblanc há mesmo um volume de embates detetivescos entre os dois (sob o nome de Herlock Sholmes, devido a reclamações de Conan Doyle).
Lupin foi o primeiro de uma série de ladrões literários que
vivem de roubar diamantes e letras de câmbio valiosíssimas (mas ele não hesita
quando tem a chance de levar todos os quadros de um castelo). O Raffles, de E.
W. Hornung, era também um desses sedutores jamesbondianos, circulando de black-tie
em Mônaco ou cruzando a Sibéria. Uma contribuição norte-americana bem sucedida
foi Simon Templar, “o Santo”, criado por Leslie Charteris. O Santo teve seu próprio pulp magazine
(no Brasil, chamava-se Meia Noite); suas aventuras são mais plausíveis
(e menos imaginativas) do que as de Lupin.
Ao contrário do guerreiro, cuja função é bater de frente e
destruir o outro, o ladrão quer apenas driblar, esquivar-se, ficar sempre um
passo adiante da lei, e divertir-se no percurso. Cary Grant no Ladrão de
Casaca de Hitchcock (o título brasileiro de To Catch a Thief deve ter sido
dado por algum leitor de Lupin) descobre meio surpreso o poder sedutor que o
furto e a finta exercem sobre algumas mulheres.
(Praticamente todos os citados até agora foram grandes conquistadores; o
inverso de Holmes.)
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