(Catrin Arno)
...
e a esfera armilar do firmamento
como
guarda noturna em sua ronda
girou
pela interface da redonda
película
do céu que nos protege.
Mesmo
um sujeito como eu, herege,
olha
o céu e se sente agasalhado.
É
“O Vazio”? Não. É o meu Sagrado.
Uma
infinita bolha de matéria
onde
brotam a glória e a miséria
no
minúsculo grão da vida humana.
Falar
nisso... Já faz uma semana
que
a editora prometeu meu cheque
e
eu desenrosco a tampa à long-neck
comemorando
o ovo inda não posto.
É
dezembro! O espelho mostra um rosto
macilento
por noites sedentárias
mas
de rugas, somente as necessárias;
no
futuro talvez virá a hora
que
eu lembrarei da minha vida agora
e
é capaz de eu achar que fui feliz.
Besteira!
Tô melhor que o meu país.
Tocando
a bola no meio de campo
e
não me falta a gig, o bico, o trampo
com
que pagar as contas fim de mês.
Acha
pouco? Eu também, mas quem não fez
contabilismos
pela madrugada,
o
“vai tanto” e o “noves fora nada”,
como
o refém que orça o seu resgate
com
usura e malícia de mascate
maquilando
o Haver no fim do dia?
Dezembro
se perfuma em alegria
como
incenso de pira funerária
e
cada um vai misturando a vária
paleta
de emoções de que é capaz.
Eu
só peço um minuto, um só, de paz;
e
me sossega a bulição da mente.
Abro
o caderno, anoto algum repente,
abro
uma cerva, “aquéto” o coração,
abro
a memória, a imaginação...
e
as duas me aconchegam no que eu sou.
E
o meu PC, que nunca mais travou?
E
dor daqui, que nunca mais doeu?
Quem
sabe o mundo enfim desaprendeu
a
dar defeito? Pense num progresso!
Quando
o placar é bom, tudo que eu peço
é
que o jogo consinta em ser jogado.
Ah,
meu corpo, resíduo “escangalhado
mas
glorioso, como um Garibaldi”,
e
que ainda não quer chutar o balde
(é
de Lobato a citação). É cedo.
Pois
venha a neve. As renas, o arvoredo
onde
os clichês bimbalham, o espumante,
os
presentes, a multidão cantante
dos
sem-teto ao redor da manjedoura,
a
pílula-placebo que se doura,
ilusão
que é real, posto que existe;
como
o mundo de Skyrim ou de Myst
este
é feito de enredo, som, imagem,
é
tudo que nos basta, na viagem
entre
um silêncio e outro em queda lenta.
A
vida canta. A vida luta e tenta
ser
razão de si mesma e seus cuidados.
Basta
abraçar alguém de olhos fechados
e
de repente o mundo é mais real.
Certo
dia... surpresa! Olha o Natal,
este
rito plangente de emboscada,
a
vida, a força mais temida e amada,
a
única que temos... Então vinde,
companheiros,
e a todos ergo um brinde
sob este céu parado em movimento...
Um comentário:
Clap, clap, clap! (Desde daqui do pampa/antes que a noite finde/ergo a vc meu brinde/à nossa amizade ampla. Baita abraço, Braulio!)
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