quinta-feira, 25 de outubro de 2012

3012) A frase de Feynman (25.10.2012)



(Richard Feynman)


A gente sempre imagina (os livros escolares têm grande parte da culpa) que a humanidade está constantemente evoluindo da ignorância para o conhecimento, da barbárie para a civilização.  Diria Augusto dos Anjos: “Ilusão trêda!”.  A barbárie não desaparece com o surgimento da civilização: é diluída por ela, assim como o leite já existente numa xícara não desaparece quando derramamos café dentro dela. Civilização e barbárie, ignorância e conhecimento, tudo isto continua a ser produzido sem parar. Varia apenas o ritmo e a intensidade de cada um.

É confortável pensar que a evolução humana é uma lei da natureza, mas as idéias confortáveis são tão perigosas quanto os paraísos artificiais. Não duvido nada que nas próximas décadas aconteça alguma catástrofe planetária (calma, estou virando a boca pra lá), de natureza econômica ou ecológica, e em um simples século a gente perca tudo que aprendeu. Como teria dito uma vez Einstein: “Não sei que armas serão usadas na Terceira Guerra Mundial, mas na quarta serão arcos e flechas”.

Perguntaram ao físico Richard Feynman (procurem meus artigos sobre ele no Mundo Fantasmo): Se algum cataclismo destruísse todo o nosso conhecimento científico, mas você pudesse deixar para os homens futuros uma simples frase, que frase seria essa?  Que informação essencial, comprimida numa pequena cápsula, permitiria reencontrar o caminho perdido da ciência?

Feynman respondeu que um ponto de recomeço importante seria a hipótese atômica, ou seja, o nosso conhecimento sobre a matéria de que o Universo é feito. E ele sugeriu a frase: “Todas as coisas são feitas de átomos, minúsculas partículas que giram em movimento perpétuo, atraindo-se umas às outras quando estão a pequena distância, mas repelindo-se quando tentamos apertá-las umas de encontro às outras”. Para Feynman, esta descrição contém uma quantidade enorme de informação sobre o mundo. O fato da matéria que parece sólida consistir em “grãos” invisíveis, separados por espaços vazios; o fato de esses grãos manterem relações de energia entre si (atração e repulsão); o fato de que, quando tentamos interferir no equilíbrio das partículas, essa energia reage de maneira violenta (como quando pegamos dois ímãs e tentamos forçar suas extremidades iguais uma de encontro à outra).

Feynman esgota o assunto? Claro que não. Biólogos, astrônomos, geneticistas etc. iriam certamente propor outras frases, outras fórmulas. Bem que poderíamos compilar uma antologia delas e gravá-las em todas as línguas, em todas as montanhas, em todas as memórias. Uma nova Tábua de Esmeralda, preservando as células-tronco do conhecimento, para fazer o mundo nascer de novo.


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