sábado, 8 de outubro de 2011

2682) Graciliano e Cândido (8.10.2011)




(Graciliano Ramos e Antonio Cândido)

Circula na Internet (deve estar no YouTube) um vídeo de uma palestra de Antonio Cândido sobre o escritor Graciliano Ramos e sua obra. 

Aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=p3r-dY-0Ows 

Cândido, que deve ter uns 90 anos, é talvez uma das últimas pessoas vivas que conheceram Graciliano pessoalmente. 

Ele narra episódios de sua juventude no interior de Minas, quando ele e outros rapazes que gostavam de ler iam para a estação esperar a chegada do trem, onde vinham as caixas de livros para serem recebidas pelo dono da livraria local. E eles, que não eram bobos, compravam os livros ali mesmo no abrir da caixa, antes que chegassem à vitrine. 

Ele fala da importância das capas modernistas dos livros de Jorge Amado, Graciliano, etc., o quanto aquelas capas com desenhos diferentes produziam neles, jovens, a sensação de um mundo que estava mudando e de uma literatura que era (ironia das ironias!) o anúncio dessa mudança. Hoje, a literatura (não falo da ficção científica) é sempre a última a ficar sabendo.

Uma observação interessante de Cândido diz respeito ao Modernismo, que hoje é muito mais importante do que quando aconteceu. Cândido lembra que os livros modernistas vendiam pouco e eram pouco lidos. Sua influência se expandiu ao longo do século inteiro, mas, na época em que houve a Semana de Arte Moderna, o Brasil leitor a ignorou solenemente. Hoje, a gente fala da Semana como se ela tivesse tido em 1922 a repercussão de um Rock in Rio.

Outra coisa que ele destaca é o fato de que quando falamos em Romance Regionalista nordestino estamos nos referindo aos habituais suspeitos: Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida, Graciliano... 

Cândido lembra que escritores duradouros como estes surgem por entre outros autores, dos quais, a princípio, não se distinguem. Todos são novos, todos são vibrantes e estão dizendo algo nunca dito; e são todos lidos em conjunto. Com o passar dos anos, acontece uma decantação, uma filtragem. 

E ele diz: “Vou citar para os senhores alguns dos grandes autores dessa primeira fase do regionalismo, e penso que só os professores aqui presentes conhecerão algum”. 

Tiro e queda: dos nomes citados eu só conhecia Permínio Asfora (que ele pronuncia “Ásfora”), de quem meu pai tinha em casa, nos anos 1950, o romance Fogo Verde

E ele cita os demais, livros e autores que foram grandes quando surgiram e já não o são: Amando Fontes, Lauro Otaviano (Gororoba), Aurélio Pinheiro (Macau), Clóvis Amorim (Alambique), João Cordeiro (Corja), Cordeiro de Andrade (Cassacos)... Tirando Cândido e mais uma meia dúzia de macróbios, quem lembra desses heróis, que foram eclipsados por Graciliano & Cia?







2 comentários:

João Asfora disse...

A volta do primo Permínio: http://festivaldaculturaarabe.wordpress.com/2013/02/05/bibliaspa-relanca-obra-de-perminio-asfora/
Melhor que isso só Bráulio em braille!

Lúcio Asfora disse...

Oportunos e enriquecedores, como sempre, os comentários do nosso mestre da crítica, Antonio Cândido, no vídeo citado por você. Por sorte, vira-o antes da palestra sobre o centenário de nascimento de Permínio Asfora, no Salão do Livro do Piauí - Salipi -, em junho último, que os organizadores, generosamente,incumbiram este filho do autor de pronunciá-la. Relembrei a única manifestação de um dos presentes acerca de um de seus livros... Vólia, Murilo e eu somos gratos pela lembrança do nosso pai.
Entendi também como uma digna homenagem de Antonio Cândido aos nossos autores esquecidos - e aqui lamento que o "Corumbas", de Amando Fontes, inclua-se no rol - a citação, um a um, dos seus nomes; quem sabe uma forma sutil de alertar que, na sua memória, estavam bem vivos... Da mesma forma que me soou mais como um conselho cavalheiresco, bem ao estilo de A.C.,a insistência de que não procurassem nele explicações para o esquecimento, deixando implícito - creio eu - tratar-se de um proveitoso exercício conjunto, em favor da literatura.
Releve se me estendi para além de um simples comentário; considere que me sinto muito à vontade neste seu espaço amigo.
Um abraço.
Lúcio Asfora