segunda-feira, 12 de julho de 2010
2256) O planejamento e a surpresa (1.6.2010)
A maioria das críticas que têm sido feitas a Dunga estão equivocadas. Eu critico a Seleção desde que ele assumiu, condenei o modo de jogar do time dele quando jogou mal ou jogou errado, elogiei quando jogou bem ou jogou como me parecia certo. E não sou do tipo que separa “futebol arte” e “futebol de resultados”. Jogar bem não é o contrário de jogar para ganhar. Toda essa discussão que se arrasta há décadas é uma imensa perda de tempo.
Acusam Dunga de ser teimoso, e ele se defende dizendo que é apenas coerente. Dunga tem razão. Técnico tem que ser teimoso – ou coerente, não importa. Alguns técnicos querem agradar a todo mundo e acabam desagradando ao mundo inteiro. Técnico tem que ter uma idéia de como montar um time, de que maneira jogar com os jogadores disponíveis, e treinar o time para isso. Lembram da fábula “O Velho, o Menino e o Burro”? Pai e filho vão montados no burro. Todo mundo que eles encontram na estrada diz que deviam estar levando o burro de outra maneira, e eles ficam tentando agradar a essas pessoas - que não concordam entre si. Primeiro vão os dois a pé, depois um montado e o outro puxando, depois trocam... Não vai dar certo nunca. Melhor ter opinião própria e esquecer os outros.
Acusam Dunga de não gostar de futebol arte. Se assim fosse ele não teria convocado jogadores como Robinho e Nilmar (que acho tão bom jogador, se bem que num estilo diferente, quanto o Neymar do Santos). Teria chamado (por exemplo) atacantes como Washington e Fernandão. O que Dunga não quer é mexer na mentalidade do grupo. Se aparecesse agora um zagueiro ou um volante defensivo sensacional, craquíssimo, mas com cabeça diferente, também não seria convocado.
A crítica mais precisa que vi ser feita a Dunga foi num artigo de José Miguel Wisnik no “Globo” do dia 15 de maio, quando ele diz sobre a base do trabalho de Dunga: “O fundamento é corporativo: o compromisso integral com o grupo de jogadores testados e aprovados ganha a dimensão de um tabu a não ser quebrado, sob pena de romper-se a relação de confiança que sustenta internamente a autoridade do técnico. (...) Eles não abrem frestas para o inesperado, para aquela aposta incógnita em algo que não está estabelecido, e na qual o futebol brasileiro bebeu tantas vezes do seu melhor. (...) Mas quem não acredita em surpresa não cria alternativas, não promove surpresa, não está pronto para a surpresa.”
Esta última frase é o x da questão, porque existe uma certa mentalidade (não só no futebol) de tentar planejar tudo, tentar prever tudo, tentar eliminar a surpresa, porque se parte do princípio que a surpresa é sempre contra, a surpresa é sempre uma ameaça, a surpresa pertence sempre ao adversário. Isto é típico de jogador bloqueador como foi Dunga, uma vida dedicada a evitar surpresas. É difícil a um jogador assim, quando vira técnico, buscar a surpresa, ser um causador de surpresas. Ele nunca aprendeu a considerar a surpresa como um aliado.
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