quinta-feira, 25 de março de 2010
1823) Milionários de Moscou (11.1.2009)
O saudoso Paulo Francis costumava dizer que a União Soviética era uma ditadura latino-americana sem plantações de bananas e com neve. A URSS se dissolveu, mas a Rússia não. Essa é feita de esmalte dentário ou de outra substância igualmente resistente. Só pode se destruída com dinamite concentrada. A velha Rússia, esse país fascinante, parece hoje uma collage da babilônia dos Czares, dos pesadelos stalinistas, do surrealismo político da América Latina e das sagas mafiosas de Manhattan.
Tomemos, por exemplo, Sergei Knyazev. É um mega-empresário cujo papel é fornecer festas e diversões fora do comum para os multi-milionários de Moscou. Acredite ou não, mas ele ficou rico organizando corridas de baratas, um esporte tão popular na Rússia quanto a briga de galos aqui. Uma matéria que colhi na Web (http://tinyurl.com/pgtpls) diz: “Os ricos e super-ricos que já viram tudo, já provaram de tudo, estão à procura de diversões que atenuem o tédio de suas vidas, e estão cada vez mais exigentes em matéria de entretenimento”. Knyazev é rico e imaginativo, e virou o “wonderboy” dos bilionários.
Por exemplo: lutar com um urso. Claro que o urso é adestrado, velho, bem alimentadíssimo. Mas não deixa de ser emocionante, para um cara riquinho, subir no ringue e se atracar pra valer com a fera. Nunca se sabe, né? Outra diversão da moda é levar os clientes (curiosamente, mulheres são a maioria) para uma área urbana onde eles podem pegar seus carros esporte e dirigir no máximo de velocidade que quiserem, fazendo o que quiserem, sem ninguém interferir.
Uma das diversões preferidas dos ricos é disfarçar-se de mendigo, como o califa Harum Al-Rachid fazia nas Mil e Uma Noites. Sujam-se, cobrem-se de andrajos, e saem pelas ruas de Moscou, relacionando-se com os mendigos reais, pedindo esmolas, deitando-se ao relento... Claro que, a uma prudente distância, uma limusine cheia de seguranças está a postos para qualquer imprevisto. No fim do dia, os participantes tomam banho e se reúnem num restaurante caro, onde o que recolheu mais esmolas é declarado vencedor e paga a conta.
São clientes que chegam a pagar 800 mil euros por um programa inédito, excitante, fora do comum. Knyazev hoje é proprietário de duas fábricas de roupas que trabalham apenas para prover os convidados de suas festas, “peças” e reality-games que exigem disfarces e caracterização (“Três Mosqueteiros”, Mitologia Grega, etc.). Políticos importantes, por exemplo, gostam de tomar parte em jogos baseados nos romances de Dostoiévski ambientados num hospício ou num campo de concentração. Claro que nem todos. Knyazev explica que muitos clientes querem apenas viver o dia-a-dia do povo, e pagam pelo direito de se espremer anonimamente nos trens lotados do metrô. Para quem nasceu e cresceu rodeado de criados, em palácios, numa vida nababesca, isto é tão emocionante e perigoso quando um safari na África.
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