sábado, 13 de fevereiro de 2010
1648) As capas de Germano Facetti (24.6.2008)
(capas: Germano Facetti)
Quando falo de capas de livro, digo que pertenço à “geração Eugênio Hirsch”, porque foi esse artista (de quem só conheço o nome, e os trabalhos) quem pela primeira vez despertou minha atenção para a arte do capista, com as capas magníficas e sutis que fazia para os livros da Editora Civilização Brasileira, nos anos 1960.
Hirsch usava fotos, desenhos, colagens, pinturas abstratas, todas as técnicas possíveis, sempre com um comentário enriquecedor, que de certa forma “dava o tom” do livro. Uma mensagem subliminar, dizendo-nos que o livro tinha tais e tais características.
Nas minhas perambulações cibernéticas fui bater nesta página do “The Guardian” (http://bit.ly/avmNlH, em homenagem ao capista Germano Facetti, responsável por numerosas capas da editora Penguin, uma das maiores e melhores em língua inglesa. Já tive e ainda tenho centenas de livros de bolso da Penguin, que edita não apenas a literatura clássica e contemporânea como sempre teve excelentes linhas de livros policiais, de ficção científica, etc.
Passeando pela galeria de capas de Facetti, reencontrei alguns livros que já tive, vi outros que conhecia. E experimentei aquela reação do leigo quando se depara com a retrospectiva de um clássico: “Puxa vida, quer dizer que todas essas coisas eram do mesmo cara?!”
A capa de Facetti para o “Beowulf”, o épico anglo-escandinavo, mostra uma máscara de metal de um guerreiro antigo; as aberturas para os olhos, que são dois buracos escuros, dão à primeira vista a impressão de óculos rayban, produzindo uma estranheza na imagem, que parece ao mesmo tempo arcaica e modernosa.
Facetti recorre ao grafismo básico na capa de “Dreadful Summit”, romance policial de Stanley Ellin: um fundo verde, dois triângulo negros, agudos, que se juntam apontando para o alto, e uma linha vermelha ziguezagueante que sobe rumo ao topo.
O livro de Ralph Ellison “The Invisible Man” (1952) é um clássico da literatura sobre o preconceito racial. Diz Ellison: “Quando as pessoas chegam perto de mim elas enxergam apenas os meus arredores, elas mesmas, ou figmentos de sua imaginação; a verdade é que elas enxergam toda e qualquer coisa, menos a mim”. A capa de Facetti tem silhuetas não-preenchidas, superpostas, entrelaçadas, e um homem de chapéu, óculos, gravatinha borboleta, traços vagamente negróides (lembra Mário de Andrade), tão transparente quanto os demais, e coberto por uma nuvem difusa de manchas escuras.
A capa para “1984” de Orwell evoca um dos tubos pneumáticos usados, no livro, para o transporte (por ar comprimido) de cilindros de metal contendo textos: no fim do tubo, um imenso olho aberto e vigilante, o do Big Brother estalinista.
Uma antologia de novos poetas ingleses mostra, sobre fundo preto, o grafismo elegante de uma pena branca (símbolo da escrita) dividindo-se em incontáveis ramos. As grandes capas são aquelas que aumentam o significado do livro.
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