sábado, 12 de dezembro de 2009

1421) A literatura do presente (3.10.2007)


(Gregório de Matos)

Um entrevistador me pergunta: “Quem você destacaria na atual Literatura Nacional?”. Pergunta difícil, a começar pelo fato de que eu não considero que há uma literatura atual e outra que não o seja. Para mim, a Literatura é o conjunto de textos disponíveis. A literatura brasileira envolve desde Gregório de Matos até o jovem poeta que acaba de publicar seu primeiro livro de tentativas. Um não é mais atual do que o outro, e há muitas chances de que Gregório de Matos se mantenha atual por mais tempo do que muitos poetas que estão vivos, inclusive eu próprio.

Para mim a literatura se compõe em primeiro lugar de livros, e só depois de autores. Por isto, trato em pé de igualdade Machado de Assis e Rubem Fonseca. Não importa se um já morreu e o outro está vivo, e sim que seus livros estão lado a lado na livraria, na biblioteca, na minha estante. Os livros estão “vivos e bulindo”, e para mim é isto que constitui a atualidade da literatura.

Suponhamos, então, que a intenção da pergunta seja de recensear os autores surgidos recentemente, os que começaram a publicar há pouco tempo e que por isto podem ser vistos como novidade, renovação, algo diferente. Aí tenho de confessar algo que não pega bem para um jornalista e aspirante a crítico literário, como é o meu caso. Mas o fato é que eu não dou a menor atenção aos novos escritores que estão surgindo. Não porque julgue que são maus autores, longe disso. Penso até que estou perdendo coisas muito interessantes quando passo semanas inteiras mergulhado em livros obscuros do século passado. Mas não tenho o objetivo de me manter em dia com a produção editorial, como acontece com os jornalistas de redação, os que todo dia no jornal recebem exemplares para resenha, enviados pelas editoras. Cabe a estes dar conta ao leitor das novidades que surgem no mercado. Nada tenho contra isto, até porque sou um beneficiário direto, já que sou leitor dos cadernos literários da grande imprensa.

Só para dar uma idéia: nunca li nenhum livro de Milton Hatoum, João Paulo Cuenca, Marcelo Mirisola, Marçal Aquino, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Bernardo Carvalho, Luís Ruffato, Alberto Mussa... Estou citando autores surgidos nos últimos dez ou doze anos. Por que nunca os li? Porque acho que não são bons? Pelo contrário. Conheço pessoalmente alguns deles, e o que tenho ouvido sobre a obra de todos é, em geral, muito elogioso. Mas eu não pesquiso o momento atual da Literatura Brasileira; leio obras em torno de algo que estou escrevendo no momento. Como acabo de lançar uma antologia de contos fantásticos, nos últimos doze meses li centenas de contos de terror do século 19. Para escrever um livro sobre Ariano Suassuna, li mais algumas dúzias de livros relacionados. São leituras de trabalho, notas ao pé da página para meus próprios livros. Tem momentos na vida em que o sujeito só lê o que vai para seus próprios livros, não tem tempo de ler livros que não são seus.

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