quinta-feira, 16 de abril de 2009

0980) Zinedine Zidane (7.5.2006)



Ele já foi por três vezes eleito como o Melhor Jogador do Mundo, e dias atrás anunciou que vai deixar o futebol. O empobrecimento artístico deste esporte tem sido tão terrível nos últimos anos (pelo menos para quem vive no Rio de Janeiro) que nosso consolo é ligar a TV a cabo e assistir o futebol europeu. Dou graças por ter podido acompanhar, nas últimas décadas, artistas que para os adolescentes de hoje não passam de meros nomes, ou até nem isso. Quem se lembra de Van Baasten, de Platini, de Rumenigge, de Boniek, de Zoff, de Roger Milla? Nomes que passam.

Outro nome que começa a passar é o de Zinedine Zidane, que com duas cabeçadas mortais nocauteou o Brasil na decisão da Copa de 1998, mesmo descontando-se o fato de que nossa Seleção já entrou em campo de pernas bambas, devido ao controvertido episódio da convulsão de Ronaldo no dia do jogo. Zidane foi o nome daquela Copa, e nos anos seguintes, jogando no Juventus e no Real Madrid, elevou o nível de expectativa e de gratificação de cada jogo de que participou. As pessoas iam a campo ou ligavam a TV simplesmente porque sabiam que ele ia jogar naquele dia; e depois dos 90 minutos retiravam-se dali cheias de gratidão e maravilhamento com o que tinham presenciado.

Zidane é um desses jogadores altos, magros, que parecem levemente desengonçados e meio duros de cintura; algo nele me lembra o nosso “Doutor” Sócrates ou seu irmão Raí, não tão magro mas dando igualmente a impressão de ser volumoso demais, desproporcional à bola. Com suas pernas longas e seu passo cadenciado, Zidane tem algo de gafanhoto, e nas primeiras vezes em que o vi jogar, na tal Copa de 1998, eu sempre era surpreendido pela facilidade com que ele dominava a bola, corria com ela, ou chutava de primeira. Pelo jeitão dele, eu sempre achava que ele não ia conseguir.

Sua facilidade em dominar a bola é impressionante, e creio que tem algo a ver com a mobilidade do tornozelo: a perna não muda muito de posição quando ele a projeta, mas a bola é recebida com uma maciez de mão estendida em concha. O mesmo recurso permite-lhe bater na bola com uma precisão sempre surpreendente, seja para executar um passe de trinta metros, seja para colocar a bola, com uma rosca venenosa, no derradeiro cantinho fora do alcance do goleiro, o qual, coitado, sai catando tostões em desespero, e mesmo quando consegue tocá-la com as pontas dos dedos é apenas para ajudá-la a se encaçapar nas redes.

Li uma vez um jornalista comentar dois gols decisivos marcados por Zidane em duas finais de campeonatos europeus: dois chutes violentíssimos em que ele emendou de primeira uma bola cruzada quase à altura de sua cabeça. O jornalista perguntou-lhe se os dois gols tinham sido idênticos, e ele respondeu, meio encabulado, que não: um fora de perna esquerda, o outro de direita. Os deuses do futebol deram aos seus pés as asas de Hermes ou Mercúrio. Com elas ele voou longe, e nos levou numa viagem de Arte e Beleza. Valeu.

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