(Grande Nuvem de Magalhães)
Para um leitor comum, as expressões “viagem interplanetária” e “viagem intergaláctica” são a mesma coisa. (Se for o seu caso, caro leitor, peço-lhe que não veja nisto nenhuma ofensa.) Já o leitor de ficção científica percebe instintivamente a enorme diferença entre uma coisa e outra: ele sabe que é a diferença entre medir distâncias em centímetros, e medi-las em milhares de quilômetros. Volta e meia estou lendo (geralmente em textos relacionados a filmes de FC) coisa como “A Terra é invadida por seres de outra galáxia” ou “Fulano e Sicrano embarcam numa nave para viajar por entre as galáxias”. Ouso dizer que quem escreve isso não tem a menor idéia do que seja uma galáxia, ou da distância entre elas.
Será impossível que os OVNIs que passam em nossos céus estejam vindo “de outra galáxia”? Impossível, propriamente, não. Mas se são de fato espaçonaves, a probabilidade mais esmagadoramente gigantesca é que venham da mesma galáxia onde estamos, a Via Láctea, a qual é grande o bastante para abrigar espécies inteligentes, capazes de nos visitar. Darei um exemplo. Estou em casa, e alguém toca a campainha. O que devo pensar: é alguém que vem daqui do Rio de Janeiro, onde moro, ou alguém chegando do Japão? Muito mais sensato pensar que seja alguém das proximidades, mesmo que eu até tenha vários amigos no Japão.
A galáxia mais próxima da Via-Láctea é a Grande Nuvem de Magalhães, que tem cerca de 1/20 do seu tamanho, e fica a cerca de 160 mil anos-luz. Um visitante “de outra galáxia” teria que percorrer este vácuo, e só então chegaria à Via-Láctea, que tem um diâmetro de 100 mil anos-luz. (Estou admitindo que ele já soubesse onde a Terra estava situada, e estivesse seguindo o trajeto mais curto possível). Dizer “um ano-luz” parece rapidinho, vapt-vupt, mas como uma dessas unidades tem 9 trilhões e meio de quilômetros, o nosso ET Magalhonense (chamemo-lo assim) teria diante de si algo como 1 quintilhão e 520 quatrilhões de km. Se a distância entre nossa terra e o Sol é de cerca de 150 milhões de km, isto quer dizer que a distância de uma viagem “inter-galáctica” é 10 bilhões de vezes maior que a que nos separa do Sol.
Vamos substituir “ano-luz” por “quilômetro”. Nossa Galáxia é uma ilha no meio do oceano, com 100 km de diâmetro. A ilha mais próxima está a 160 km., separada dela pelo vazio do oceano Se alguém bate à nossa porta, é mais lógico supor que seja um habitante da nossa própria ilha, que tem uma extensão razoável, do que alguém que tenha cruzado o alto-mar numa balsa (ou que tenha vindo de avião-a-jato, tanto faz) para vir bater à nossa porta. As distâncias interplanetárias (dentro do nosso Sistema Solar) são imensas. As distâncias interestelares, entre as estrelas de nossa galáxia, são espantosamente superiores. Distâncias inter-galácticas estão num grau de magnitude tal que mesmo diante dos números não conseguimos perceber a enorme desproporção em relação ao mundo que conhecemos.
3 comentários:
ok, Braulio, mas há a possibiliadade dos buracos de minhoca. Como o espaço não é plano (aliás, esse adjetivo não se aplica mesmo ao espaço) e pode ser deformado pela gravidade, há os "atalhos" feitos pelos buracos de minhoca, que poderiam encurtat o caminho um bocado.
dá pra ler sobre os buracos de minhoca, em uma abordagem bem descontraída, aqui:
http://asjanelasolham.blogspot.com/2009/03/teoria-do-buraco-da-minhoca.html
Há também a possibilidade de os ETs já terem inventado o teletransporte. E aí, fica mais fácil.
Abraços.
Certíssimo, Ailton. Também tem a possibilidade de espaçonaves faster-than-light e outras. Mas o que estou apontando é que a maioria das pessoas fala em "outra galáxia" porque a palavra é charmosa, sugere distâncias siderais... mas elas não sabem calcular a diferença de escala entre essas distâncias. Se não sabem isso, sabem menos ainda o que seja buraco-de-minhoca ou teletransporte.
eheh.
vc tem razão.
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