sábado, 11 de abril de 2009

0963) Os novos poetas (18.4.2006)


(Cézanne - "O Sonho do Poeta")

Toda semana recebo um email, ou uma carta, ou um pesado envelope pardo cheio de poemas, e um apelo: “Prezado Senhor: Sou um jovem poeta, e não consigo publicar meus poemas. O sr. pode me ajudar?” Claro que posso.

Comece a escrever bem cedo, e comece a publicar bem tarde. Com dezesseis anos eu já escrevia sonetos alexandrinos, poemas surrealistas, epigramas satíricos. Graças a Deus nunca os publiquei, mas o fato de todo dia estar escrevendo uma coisa nova me dava a sensação de estar jantando num restaurante imenso, cheio de gente famosa. Ninguém tomava conhecimento de minha existência, mas eu me sentia ocupando o mesmo espaço que eles. Publiquei meu primeiro livro (um folheto de cordel) aos 28 anos. Ainda acho que foi um pouco prematuro; mas eu já estava impaciente. Resumindo: escreva muito, e publique pouco.

Não pense nas grandes editoras. Grandes editoras só publicam poetas consagrados, poetas premiados, ou amigos dos amigos. Se você não é nenhuma dessas coisas, publique-se a si mesmo. Foi assim que surgiram o Modernismo, a Literatura de Cordel, a Geração Mimeógrafo, a Poesia Marginal, e assim por diante. Auto-publicação. Publicar por uma grande editora é o mesmo que chegar à Seleção Brasileira. Aquilo não é um começo de carreira, é uma conquista. Só chega lá quem já mostrou serviço. Não é para novatos. A menos (repito) que você seja parente ou amigo de alguém “importante”, e a publicação de seu livro envolva uma barganha-de-favores qualquer.

A obra do poeta é o poema, e não o livro-de-poemas. Divulgue seus poemas isoladamente, e deixe para pensar nessa história de livro a longo prazo. Copie o poema, distribua com os amigos, pregue na parede, recite-o (se for o caso) nos lugares e momentos propícios. Se você tiver, daí a alguns anos, meia-dúzia de poemas “na boca do povo”, vai ficar muito mais fácil fazer um livro, em vez de ficar tirando cópias e mais cópias. E (curiosamente) os que já têm cópia serão os primeiros a comprar o livro. É uma lei da Natureza.

Use a Internet. É o lugar ideal para publicar suas coisas a custo zero, e para ler a custo zero as coisas alheias. Mande seus poemas para todo mundo. Eu recebo dezenas de poemas por semana. Leio alguns, deleto quase tudo, raramente guardo um. Quando leio um poema de que gosto (1% do total), presto atenção ao nome do autor. Se eu vir esse nome numa revista, numa antologia, vou lá conferir, pra ver se presta de novo. É assim que os nomes (Drummond, Cabral, Bandeira) se formam.

Não pense que as editoras, ou os governos, têm a obrigação de publicar seus poemas. Não têm. Você é que tem de convencer as pessoas (inclusive editoras e governos) de que o que você escreve tem valor coletivo, desperta a atenção de centenas ou milhares de pessoas, serve como referencial de discussão, é citado por gente que não conhece o autor mas que admira as idéias. Em suma: faça sucesso primeiro, e alguém vai querer publicar suas coisas.

Um comentário:

ANDERSON MENEZES disse...

Dr. Braulio Tavares é riquíssimo de informação esse texto. É um incentivo para as pessoas que tem um certo talento e tem pretensões de trabalhar com essa arte de escrever, ou até mesmo apenas ver suas coisas feitas editadas sem muitas pretensões, embora saibamos que muitos escolhem esse arte mas poucos são escolhidos por ela. Esse caminho da busca e do aprendizado é importante. Gostaria de ter tamanho talento para me envolver com essa arte, como não tenho fico só a admirar que tenha. E é ótimo que as pessoas sonhem em ser mesmo não sendo, por que acredito que no fundo todo mundo tem um pouco de poeta ou de escritor, embora uns bem mais que outros por que realmente foram escolhidos por essa arte..