terça-feira, 14 de outubro de 2008

0598) Blogs (17.2.2005)




Eu estava conversando com um grupo de amigos quando falei que tinha lido não-sei-o-que num blog, aí uma amiga minha disse: “Eu não acredito que você perde o seu tempo lendo essas coisas de menininhas adolescentes.” Eu falei: “Não, é um blog dum jornalista.” E outro falou; “Pois deve ser um jornalista muito desocupado – o cara tem tempo de fazer blog!” Isto tudo revela o tipo de preconceito de muita gente que ouve o galo cantar mas não sabe onde. Embora eu reconheça que existem hoje milhões de garotinhas adolescentes que fazem blogs para falar da briga que tiveram com o namorado, ou da sandália nova que compraram, ou do garoto com quem pretendem “ficar” na próxima festa.

Esses blogs na Internet estão substituindo aquelas agendas (cheias de adesivos, escritas com hidrocor); estão substituindo também os famosos livrinhos “Meu Diário” que tantas mocinhas já cultivaram, aqueles com uma fechadurazinha que qualquer mãe mais traquejada abre com um “biliro”. Mas é um grande erro imaginar que blog é apenas isto. Existem blogs literários onde escritores e críticos comentam livros. Existem blogs eróticos onde pessoas anônimas contam suas atividades e fantasias sexuais com um detalhismo que faria Henry Miller e Pierre Louys parecerem escritores evangélicos. Existem blogs feitos por escritores de ficção científica onde se debatem as possibilidades de novas engenhocas eletrônicas ou teorias cosmológicas. E assim por diante.

Em 4 milhões de blogs pesquisados recentemente, mais de 60% pertenciam a mulheres. A revista Time chamou o blog de “um quarto só seu no século 21”, aludindo ao livro de Virginia Woolf A Room of One´s Own, em que ela defende o direitos das mulheres de terem um aposento para ler, pensar, escrever, longe do tumulto doméstico e familiar. A Internet possibilita colocar um texto à disposição de milhões de pessoas. A tecnologia da maioria dos portais que oferecem blogs é rápida e sem mistérios. Qualquer dona-de-casa que saiba mandar um email consegue achar um tempinho para sentar ao teclado, digitar por meia hora, dar um clique, e fazer com que seus desabafos ou seus devaneios fiquem expostos nos muros da cidade virtual, à disposição de quem por ali navega.

Blogs pessoais estabelecem um hibridismo curioso entre o íntimo e o público. Eu fico estarrecido com o grau de franqueza e de auto-revelação que vejo em alguns blogs. Maridos ou esposas confessam nos menores detalhes suas brigas domésticas, suas separações, seus conflitos. Homens ou mulheres contam nos mínimos detalhes as práticas sexuais pouco ortodoxas a que se entregam com seus parceiros, ou com gente anônima pegada na rua. Basta olhar o cabeçalho, no entanto, para perceber que esses “diários públicos” continuam íntimos e privados, porque não se sabe o nome do autor (é sempre um pseudônimo), e, se ele não quiser, nem sequer o país de onde ele escreve. É o máximo de exibicionismo unido ao máximo de privacidade: o melhor de dois mundos.

2 comentários:

Thania Klycia disse...

Seus comentários são muito pertinentes. Eu descobri o blog há pouco tempo, e estou usando-o para divulgar contos. Acho uma forma interessante de expôr o que se pensa, ainda que se exponha muita bobagem. Mas isso é uma característica de qualquer meio de comunicação.

Bruno Gaudêncio disse...

Grande Braúlio, sempre com opiniões sensatas. O Blog é um suporte muito interessante de duvulgação mesmo. Este seu Mundo Fantasmo é uum espaço extraordinário, só assim posso ter uma visão geral de suas cronicas. Lembro-me que ate pouco tempo lia suas cronicas em recortes do Jornal da Paraíba, feitas por uma amiga minha. Aproveitando deixo o link do meu blog, lá sempre publico alguns dos meus escritos, ensaios, poeminhas, aforismos, estudos históricos sobre Campina Grande
http://brgaudencio.wordpress.com/