Já me referi nesta coluna aos pontos em comum entre a obra de Tolkien e o Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa.
Em ambos se descreve uma batalha épica do Bem contra o Mal, onde as tropas do Bem são conduzidas por um herói problemático, cheio de dúvidas e hesitações.
O herói do Grande Sertão é Riobaldo, um jagunço a quem cabe liderar o bando na jornada de vingança ao seu líder, Joca Ramiro, assassinado à traição por um dos seus sub-chefes, Hermógenes.
Joca Ramiro tem a estatura épica e o caráter íntegro de um rei medieval (Riobaldo o chama de “par-de-França”). Com sua morte, os jagunços ficam divididos em bandos menores, cada qual comandado por um sub-chefe: Medeiro Vaz, João Goanhá, Titão Passos, Sô Candelário, etc.
Riobaldo é o melhor atirador do grupo, o jagunço mais frio no gatilho, o de melhor pontaria, talento que o torna respeitado e lhe vale apelidos honrosos: “Tatarana”, “Urutu-Branco”. Ele junta-se por fim ao grupo de Medeiro Vaz que, à morte, oferece-lhe a chefia. Ele recusa.
É um típico herói-em-dúvida, herói moderno, diferente dos heróis mitológicos que em nenhum momento questionam a própria coragem, as próprias motivações. Riobaldo pergunta-se: “Por que estou fazendo isto tudo? Por que fazer isto? E por que logo eu?”
Crivado de dúvidas, ele recorre ao pacto com o Diabo, na encruzilhada das Veredas Mortas, para a qual vai descrente, e de onde retorna sem ter certeza se encontrou mesmo o Diabo ou não.
Mas a partir desse episódio ele parece mudado, imbuído de uma autoridade que não parecera ter até então. Sob seu comando os bandos dispersos de jagunços são unificados, e encurralam os “hermógenes” ou os “judas”, como chamam aos inimigos, até derrotá-los na batalha final do Paredão.
Em O Senhor dos Anéis, Aragorn é o legítimo herdeiro do trono, por ser filho de Isildur, o rei que decepou a mão de Sauron, o Senhor das Trevas, tomando dele o Anel do Poder.
Aragorn, órfão, é criado pelos elfos, que somente na idade adulta vêm a saber de sua linhagem. Ele torna-se um “Ranger”, patrulha as fronteiras da Terra Média, e adquire não só experiência de batalhas e de privações como passa a conhecer profundamente o território e o povo. Ele poderia repetir a frase de Riobaldo: “Assim conheço as províncias do Estado, não há onde eu não tenha aparecido.”
Sabe que é destinado a ser rei, e que para isso terá que unificar os diferentes reinos que se opõem a Sauron (Gondor, Rohan, etc.). Mas sabe também que seu pai, Isildur, cedeu à tentação do Anel e em vez de destruí-lo ficou com ele.
Como Riobaldo, ele não questiona a própria bravura ou sua competência como guerreiro, mas, até ser arrastado pelos acontecimentos, hesita diante da missão que lhe cabe. Ambos pertencem a uma estirpe de heróis (como o Paul Atreides de Duna) que enfrentam a Morte sem medo, mas que hesitam diante do Poder, por saberem que nenhum Poder é conquistado com mãos limpas, por melhores que sejam as intenções do Herói.
Em ambos se descreve uma batalha épica do Bem contra o Mal, onde as tropas do Bem são conduzidas por um herói problemático, cheio de dúvidas e hesitações.
O herói do Grande Sertão é Riobaldo, um jagunço a quem cabe liderar o bando na jornada de vingança ao seu líder, Joca Ramiro, assassinado à traição por um dos seus sub-chefes, Hermógenes.
Joca Ramiro tem a estatura épica e o caráter íntegro de um rei medieval (Riobaldo o chama de “par-de-França”). Com sua morte, os jagunços ficam divididos em bandos menores, cada qual comandado por um sub-chefe: Medeiro Vaz, João Goanhá, Titão Passos, Sô Candelário, etc.
Riobaldo é o melhor atirador do grupo, o jagunço mais frio no gatilho, o de melhor pontaria, talento que o torna respeitado e lhe vale apelidos honrosos: “Tatarana”, “Urutu-Branco”. Ele junta-se por fim ao grupo de Medeiro Vaz que, à morte, oferece-lhe a chefia. Ele recusa.
É um típico herói-em-dúvida, herói moderno, diferente dos heróis mitológicos que em nenhum momento questionam a própria coragem, as próprias motivações. Riobaldo pergunta-se: “Por que estou fazendo isto tudo? Por que fazer isto? E por que logo eu?”
Crivado de dúvidas, ele recorre ao pacto com o Diabo, na encruzilhada das Veredas Mortas, para a qual vai descrente, e de onde retorna sem ter certeza se encontrou mesmo o Diabo ou não.
Mas a partir desse episódio ele parece mudado, imbuído de uma autoridade que não parecera ter até então. Sob seu comando os bandos dispersos de jagunços são unificados, e encurralam os “hermógenes” ou os “judas”, como chamam aos inimigos, até derrotá-los na batalha final do Paredão.
Em O Senhor dos Anéis, Aragorn é o legítimo herdeiro do trono, por ser filho de Isildur, o rei que decepou a mão de Sauron, o Senhor das Trevas, tomando dele o Anel do Poder.
Aragorn, órfão, é criado pelos elfos, que somente na idade adulta vêm a saber de sua linhagem. Ele torna-se um “Ranger”, patrulha as fronteiras da Terra Média, e adquire não só experiência de batalhas e de privações como passa a conhecer profundamente o território e o povo. Ele poderia repetir a frase de Riobaldo: “Assim conheço as províncias do Estado, não há onde eu não tenha aparecido.”
Sabe que é destinado a ser rei, e que para isso terá que unificar os diferentes reinos que se opõem a Sauron (Gondor, Rohan, etc.). Mas sabe também que seu pai, Isildur, cedeu à tentação do Anel e em vez de destruí-lo ficou com ele.
Como Riobaldo, ele não questiona a própria bravura ou sua competência como guerreiro, mas, até ser arrastado pelos acontecimentos, hesita diante da missão que lhe cabe. Ambos pertencem a uma estirpe de heróis (como o Paul Atreides de Duna) que enfrentam a Morte sem medo, mas que hesitam diante do Poder, por saberem que nenhum Poder é conquistado com mãos limpas, por melhores que sejam as intenções do Herói.
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