Um Budista Tibetano me disse certa vez: “Se você jogar 100 sementes num roçado, e apenas uma delas brotar, você deve considerar isto uma vitória por 1x0, e não uma derrota por 99x1”.
Podemos extrair diferentes lições desta parábola. Uma delas é que as vitórias são mais importantes do que as derrotas. Ou, talvez, que às vezes a gente considera derrotas o simples fato de que não conseguiu o que queria, e isto é uma precipitação.
Se você está no ponto do ônibus e passam vários outros ônibus antes do que você está esperando, você não deve considerar cada um desses eventos como uma derrota pessoal, senão quando o ônibus de verdade chegar você já está tão arrasado que acaba se jogando embaixo dele.
Já pensou que catástrofe seria o futebol se cada vez que o centroavante chutasse para fora isto fosse computado como um gol do adversário? (O tênis, por exemplo, é assim.)
Devemos valorizar as nossas bolas-dentro, por mais dúbio que seja este conselho, dito desta forma. Devemos valorizar nossos triunfos, por menores que sejam. As vitórias são mais difíceis do que imaginamos. A principal lição sugerida pelo Budista Tibetano é de que nesta vida o normal é que nada dê certo, portanto cada coisa que dá certo precisa ser valorizada com muito carinho, como se fosse uma pedra preciosa, ou como se fosse a última fêmea de uma espécie em extinção.
Sou meio desconfiado com essas filosofias pseudo-otimistas de que “todos nós somos irmãos, todos somos iguais...” Dá a impressão de que tudo no mundo é fácil, que a vida é uma água-de-coco, que a comunicação entre os seres humanos é tiro-e-queda. Pois não é não, viu?
Minha teoria científica sobre a humanidade é que somos uma raça de chimpanzés ligeiramente mais evoluídos porque uma civilização alienígena implantou chips cibernéticos em nossos cérebros, além de softwares que nos possibilitaram inventar a roda, o fogo, o alfabeto, a agricultura... O problema é que os chips são todos diferentes, e os softwares também: são fabricados na Bulgária, na Índia, no Japão...
O mundo é, portanto, uma Torre de Babel, ninguém se entende, mesmo quando usa o mesmo dicionário e a mesma gramática.
Em vez de termos como certa e garantida a comunicação entre as pessoas, devemos saber que elas estão se desentendendo até quando pensam que estão de acordo. Devemos nos esforçar, perguntar muito, escutar mais ainda, conferir o tempo todo, fazer força para entender. Nada cai do céu, nada nos é dado de graça.
A proximidade humana é ilusória. Mesmo duas pessoas de mãos dadas, olhando para o mesmo céu estrelado e escutando a mesma música, estão pensando em coisas completamente diferentes.
Eu sei que é preciso transpor esses abismos, mesmo levando em conta que no meu crânio está implantado um chip ucraniano, e minha consciência é um programa tcheco pirateado na Argentina e comprado no camelódromo da Praça da Bandeira.
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