(ilustração: Huang Yung Fu)
O planeta de Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores terrestres. Seu vocabulário exprime as características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da cultura. Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário Interplanetário de Bolso.
“Lhossa”: reunião semanal numa rua, ou num bairro, onde
as pessoas levam pequenos problemas de ordem prática para pedir conselhos aos
demais: qual a melhor maneira de consertar uma cerca, como preparar determinada
comida, o que fazer com um filho-problema, etc.
“Etrix”: pequenas molas que, acopladas aos pés das
cadeiras, permitem à pessoa ficar sentada e mexer o corpo para exercitá-lo,
pois a cadeira acompanha essas micro-mudanças de posição.
“Teruch”: diz-se de certas misturas de infusões vegetais
com o poder de desentupir encanamentos, esgotos, etc., e por extensão diz-se o
mesmo de bebidas alcoólicas de baixo preço.
“Quavryub”: cortinas com aberturas móveis, que podem ao
mesmo tempo deixar um ambiente na penumbra e dirigir fachos de luminosidade na
direção que for conveniente.
“Elkism”: a sensação permanente e às vezes inexplicável
de que por mais que tudo pareça estar em paz essa paz pode ser estilhaçada a
qualquer instante por alguém que chega, uma voz que se ouve, um recado que se
recebe.
“Ardofoot”: dança coletiva, espécie de quadrilha, onde
todos os participantes dançam de olhos vendados, sentindo-se pelo tato e
trocando de pares de acordo com “deixas” da melodia. Usa-se também na linguagem
diária para descrever uma situação que a pessoa não entende por completo mas
está se saindo como pode, na base do improviso.
“Gelaya”: jardins de flores organizadas geometricamente
para serem vistos de forma diferente, criando desenhos específicos, de cada
janela da casa.
“Timpirol”: rito de passagem a que, em algumas regiões,
se submetem os adolescentes de ambos os sexos, e que incluem a adoção de um
apelido, a incineração de todas as roupas que possuíam, numa cerimônia em que
vizinhos e parentes comparecem trazendo-lhes roupas novas e recados com
pequenas surpresas (ofertas de trabalho, propostas para viagens, etc.).
“Riazons”: tubérculos avermelhados que servem tanto para
a alimentação quanto para a fabricação de tintas, com as quais são pintados os
passarinheiros, viveiros abertos que servem de abrigo às aves.
“Maytor”: período de lua-de-mel que precede o casamento;
algumas semanas antes da data fixada para a cerimônia, os noivos têm direito a
passar 10 dias a sós, liberados de trabalho e/ou estudos, para se conhecerem
melhor. Findo este período, eles confirmam ou cancelam o matrimônio.
“Ormassycs”: trabalho típico de pessoas idosas,
remuneradas por uma “caixinha” mantida pela comunidade, e que servem de
cicerones ou guias aos pontos interessantes de um bairro, de um quarteirão,
porque sabem tudo que aconteceu ali, os lugares onde moraram pessoas conhecidas,
onde aconteceram fatos memoráveis, etc.
“Sokkun-Udis”: lugares onde ocorreram grandes batalhas no
passado, e onde hoje as pessoas vão, em datas comemorativas, para meditar em
silêncio, sem festas, sem homenagens, sem discursos; apenas sentam-se em
círculo ao anoitecer, conversando o mínimo possível, e só se retiram ao nascer
do sol.
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