Talvez os centenários de Lourival Batista e de Rosil Cavalcanti tenham me distraído, porque só agora fiquei sabendo que estamos comemorando também os cem anos de nascimento de Roland Barthes (1915-1980), um dos nomes mais importantes nos estudos da teoria literária e da linguagem. Barthes foi aquele típico intelectual parisiense no que essa estirpe tem de melhor, exibindo erudição, refinamento, cosmopolitismo, atenção à vida prática, elegância na exposição das idéias e uma capacidade assustadora de ver as coisas pelo lado de fora. Ler os textos dele era como estar num desenho animado de Escher ou de Steinberg, onde pensamos: “Ah, sim isto é o mundo, e aquilo lá adiante é um quadro” e de repente percebemos que em volta do “mundo” existe uma moldura mostrando que ele é um quadro também. E de recuo em recuo vamos nos afastando dos “quadros”, à procura de um ponto de vista inacessivelmente externo e objetivo, sem conseguir. O mundo é uma sucessão de quadros em-abismo, diminuindo diante dos nossos olhos e ao mesmo tempo alargando-se às nossas costas. Não é que o mundo não exista; ele existe, mas é feito dessas caixas de linguagem infinitamente guardadas umas dentro das outras.
Leitores de
Barthes hão de me crucificar por simplorizações deste tipo, mas paciência.
Sempre que tentei penetrar no labirinto da semiótica dei com a cara em portas
para as quais nunca tive a senha. As únicas portas estilisticamente abertas e
convidativas eram as do italiano Umberto Eco e do francês Barthes, que viraram
minhas referências de leigo sempre que procuro refletir a respeito dos reflexos
das reflexões alheias sobre os espelhos da literatura e da linguagem. Barthes
deve ter sido um professor fascinante para seus alunos do Collège de France e
outras instituições. Sempre o imaginei tendo algo de meu mestre Jomard Muniz de
Britto e de explicadores mesmerizantes como Paulo Emílio Salles Gomes ou José
Miguel Wisnik.
2 comentários:
Vocês dois são muito bons!
2015 é também o centenário de José J. Veiga.
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