Tive poucos papos com Eduardo Coutinho, um dos maiores documentaristas brasileiros, mas um ficou na História. Eu estava em Campina Grande e me liga Rômulo Azevedo avisando que Coutinho estava na cidade, com equipe. Estavam filmando na Paraíba, o dia era de folga, e queriam saber “o quê que rola”. Eu anunciei: “Show de Braulio Tavares no Buracão, o bar de Noaldo Nery, Campina inteira conhece, atrás da AABB.” Vai a equipe (Edgar Moura é testemunha), eu canto as lorotas de sempre, toma-se a cerveja de sempre, conversa-se o que se conversa entre cinéfilos meio de-fogo e embalados pela música. Nem Coutinho nem ninguém quis revelar o que estavam filmando. Dois anos depois, eu soube: era Cabra Marcado para Morrer.
O tempo silenciou André Carneiro, mas só
metaforicamente. Ele, que publicou aos
85 anos um volume de contos inéditos com mais 600 páginas, deixou também
inéditos, aos 92, textos suficientes para mais uma coletânea. André foi poeta, fotógrafo, editor,
hipnotizador, artista plástico, e um dos grandes autores da Primeira Onda da
ficção científica brasileira, nos anos 1960. Até o fim, esteve produtivo e lúcido.
Via a ficção científica como uma parte especialmente brilhante de um vitral
muito grande, muito complexo, feito de imagens e de histórias. Tinha razão.
Hermano José foi o primeiro diretor que montou na Paraíba
minhas primeiras peças de teatro, escritas quando eu morava em Salvador: Quinze Anos Depois” (com Ranulpho Cardoso Jr. e Socorro Brito, ou Numa Ciro) e Trupizupe, o Raio da Silibrina, também chamada O Casamento de Trupizupe com
a Filha do Rei. Eu e Hermano tínhamos
um senso de humor e de sátira muito parecido.
Ele era sempre um gentleman, e defendia um teatro devastadoramente
sarcástico, cheio de raiva e de riso.
Alguém que sempre me dizia: escreva mais, todo mundo gosta do que você
escreve.