Coube a Ezra Pound dar uma das mais simples, ricas e
eficazes receitas para definir a poesia, em seu ABC da Literatura (Editora
Cultrix, São Paulo). Ele diz, no capítulo IV: “Contudo, as palavras ainda são
carregadas de significado principalmente por três modos: fanopéia, melopéia,
logopéia. Usamos uma palavra para lançar
uma imagem visual na imaginação do leitor ou a saturamos de um som ou usamos
grupos de palavras para obter esse efeito.” Já vi estudantes recitando
ladainhas para decorar isso. E na verdade nem precisa tanto esforço. Basta entender o que é.
“Fanopéia” se refere à utilização das palavras para produzir
imagens visuais (ou sensoriais de um modo mais amplo – imagens auditivas,
olfativas, táteis, etc.) na mente do leitor.
“Fano—“ vem do grego “phainen”, “mostrar”, tornar visível uma
imagem. Por exemplo, “diáfano” é algo
que se deixa trespassar por uma imagem.
A fanopéia é portanto a produção de uma imagem na mente do leitor, pelo
uso de palavras. Se eu digo: “Um círculo vermelho com um quadrado amarelo no
centro”, produzi uma fanopéia em quem leu essa frase.
“Melopéia” vem do grego “melo”, que significa música e deu
origem a termos como “melodia”. É a
produção de uma impressão musical, melódica, na mente do leitor, pela
combinação de sons sugeridos pelos fonemas usados nas palavras do verso. E “logopéia” vem de “logos”, que significa “idéia”;
mesma origem de “lógica”, etc.
O que diz Pound? A
poesia usa palavras arranjadas de tal maneira que produzem, na mente de quem as
lê, impressões visuais (e sensoriais, num sentido mais amplo), impressões
melódicas e impressões de idéias abstratas (que não se relacionam nem com a
imagem nem com o som). Música, imagem e
idéia. Cada poema, cada verso, traz essas
três coisas, em proporções que variam o tempo inteiro.
Um comentário:
Que aula maravilhosa! Obrigada!
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