(The Tomb of Ligeia, 1964)
Quando
sua noiva Alice morreu, depois de meses de luta contra uma doença implacável,
Karl pensou que iria enlouquecer. Durante o velório e os preparativos para o
sepultamento, parentes se revezaram ao seu lado, atentos a qualquer gesto de
desespero. Sabiam o quanto ele era emotivo, melodramático, precisava
externalizar tudo que sentia. Viram com alívio, contudo, que ele dedicou aquela
última e interminável noite à compilação de todos os poemas que escrevera para
Alice, principalmente durante as semanas de sua agonia final. Na manhã
seguinte, na hora das últimas despedidas antes de fechar o caixão, ele
aproximou-se, ficou alguns minutos murmurando algo em voz baixa, e por fim
colocou entre as mãos postas dela o grosso maço de folhas manuscritas, atadas
com uma fita de seda: os poemas, sem cópia, que pertenciam a ela e só a ela. E
assim foi enterrada.
O
tempo passou, e com ele as coisas que o tempo traz. Karl concluiu seu curso,
foi morar na capital. Continuou a escrever; a poesia era não somente a cura
para o sofrimento mas o registro da descoberta de novos mundos, novos
horizontes. Frequentou a corte. Fez amigos. Amadureceu; conquistou cargos e
posições, e quando começou a publicar seus primeiros livros, os novos poemas foram
acolhidos com entusiasmo e reverência. Ninguém os amava mais do que Dorotéia, a
bela filha de um embaixador, em cujos braços ele encontrou por fim a felicidade
que lhe fôra negada.
Um
ano depois marcaram o casamento, e o editor de Karl sugeriu que publicasse um
novo livro para comemorar a data. Foi Dorotéia que, sabendo do noivado
tragicamente interrompido, sugeriu-lhe que tentasse recuperar os manuscritos
sepultados. Seria uma aventura romântica, que iria projetar ainda mais seu
nome. Karl, que secretamente já se arrependia do que fizera, concordou. Combinaram que só revelariam tudo depois de
feito, e embarcaram no trem para a cidade natal do poeta.
2 comentários:
Dante Gabriel Rosseti fez a mesma coisa... e se arrependeu também...
Que Alice vingativa!
Postar um comentário