Na escola somos tantas vezes punidos por erros de ortografia que, das duas uma: ou o sujeito manda tudo pro inferno e continua a escrever “concerteza”, ou vira um Inquisidor espanhol, de fogueira em punho, pronto para imolar o primeiro que der uma escorregada. Eu, por mim, acho que o pior erro de escrita é o que muda o sentido do que se estava querendo dizer, o que prejudica a comunicação. Não sendo assim, é um pecado menor, como mau hálito ou maus modos à mesa. Feio pra danado, mas fácil de corrigir.
Leitores
vêm às vezes me corrigir o modo como escrevo certas palavras. As mais notórias são “saite” e
“websaite”. Sempre tem um bom samaritano
para me explicar que são termos em inglês, e que se escrevem “site,
website”. Beleza. Acontece que uma das dinâmicas apropriativas
da língua portuguesa é justamente esquecer como as palavras são escritas na
língua de origem, e escrever o modo como nós as pronunciamos aqui. Funcionou
assim com futebol, abajur, mídia (cujos originais são “foot-ball”, “abat-jour”,
“media”) e mil outros. Bato de novo numa
das minhas teclas preferidas: a linguagem é primeiro falada e escutada, só
depois é escrita e lida. Nosso caminho intuitivo para formação de palavras é o
som, não as letras com que aludimos a ele.
A
grafia inglesa “site” nos sugere instintivamente a pronúncia “síte”. Já com
“saite” não tem dúvida nenhuma. Já se cogitou (e ainda se pratica) a
substituição por “sítio” (“vi isso num sítio na Internet”), mas aos meus
ouvidos isso não encaixa 100%. Sítio me parece uma palavra muito contaminada
por outros usos. Saite é uma palavra nova para um conceito novo.
Já
me brandiram triunfantes um argumento: “Então, por que escrever websaite, e não
uebsaite?”. Explico. Esse dáblio inicial não tem perigo de ser
confundido com o som de “vê”, até pela quantidade de Williams, Washingtons,
etc. à nossa volta. Nunca vi nenhum
novato dizer “vebsaite”. Conserva-se a pronúncia, e neste caso conserva-se a
grafia. Uma solução salomônica, que nos ajuda a identificar com presteza todo
esse campo temático (“webmaster, web design”, etc.) através da letra escrita,
sem prejuízo do som pronunciado.
3 comentários:
É Braulio. Eu peço para os meus alunos fazerem uma atividade de inglês, ai depois falo que t~em de dizer como ou por que fizeram daquele jeito. Ai os cenhos franzem!
Pesar de eventual confusão oral com SAI-TE (de resto dirimível no contexto), assimilo tranquilamente e até gosto do "SAITE",caro Braulio. A questão reside no bom-senso, uso e eficiência dessas versões aportuguesadas. Por exemplo suposto: DAITE/DIET. No mais, o que voga é a adesão significativa da comunidade falante.
Abraço, Joseh Antonio Assunção, Parahyba, 01.04.14
Do feicibuque ao teu blogue num clique, para comentar sobre este pôste que merece muitos laiques.
E quem não gostar que se fuque!
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