quinta-feira, 24 de outubro de 2013

3325) Seu Nilo (24.10.2013)






Meu pai se gabava de ser capaz de passar 24 horas recitando de memória sonetos dele e de seus poetas preferidos (Olavo Bilac, Emilio de Menezes, Augusto dos Anjos) e inúmeros outros. 

Quando eu tinha 8 ou 10 anos, nas paredes da nossa casa havia, emoldurados, um retrato a carvão de Castro Alves, a reprodução de uma foto de Lampião, uma página de revista com uma foto de Bilac e o soneto “Dualismo” (que ainda sei de cor), uma foto de meu avô Braulio, que não cheguei a conhecer.

Tinha somente o curso secundário, foi tipógrafo, encadernador (ainda tenho livros encadernados por ele), funcionário público (foi chefe de gabinete de três reitores da URNe, atual UEPB), jornalista e radialista (na Rádio Borborema e Diário da Borborema, principalmente). 

Era organizadíssimo, “caxias”, muito severo com os funcionários, mas muito justo. Nos fins de semana, era um grande boêmio, bebia bastante, gostava de se cercar de gente alegre. 

Era desafinado e não cantava, mas o terraço da nossa casa vivia cheio de gente tocando violão e cantando; ele se limitava a acompanhar, batendo com uma faca numa garrafa. Gostava de fazer paródias de músicas conhecidas e em casa improvisava um soneto sobre qualquer bobagem que acontecia, o que divertia todo mundo.

Torcia pelo Sport do Recife (a cidade em que cresceu), pelo Flamengo, e pelo Treze; eu herdei essas três paixões. Temos fotos dele ao lado de Dida (do Flamengo) e de Telê (do Fluminense) quando esses times jogaram em Campina Grande. 

Colecionava revistas de futebol (Manchete Esportiva, Revista do Esporte, Gazeta Esportiva Ilustrada), encadernadas;  encadernou também tudo que conseguiu juntar sobre as Copas de 58 e 62. Esse material acabou se perdendo devido ao mofo, pois nossa casa no Alto Branco era muito úmida. 

Também colecionava dicionários, porque era charadista e enigmista, colaborador de muitas revistas Brasil afora sob o pseudônimo de Pequeno Polegar (era baixinho).

Não ligava muito para cinema. O único filme que o vi elogiar foi Ziegfield, o Criador de Estrelas, e seu ator preferido era Edward G. Robinson. 

Gostava de ler Coelho Neto, Humberto de Campos, Guerra Junqueiro, bem como folhetins (Ponson du Terrail, Michel Zevaco, Xavier de Montepin) e romances policiais tipo Shell Scott. 

Gostava de trabalhos manuais, de mexer com serrote, martelo, etc. Durante muitos anos teve um mimeógrafo no quarto dos fundos, com o qual ganhava a vida imprimindo boletins, quando estava desempregado. 

Eu me habituei a chamá-lo de “Seu Nilo” desde pequeno, e esse tratamento ficou para o resto da vida. Meu pai completaria hoje, 24 de outubro de 2013,  cem anos de idade. Agora, tomarei uma em sua memória. Tin-tin!







6 comentários:

Flávio disse...

Braulio, quando você for pra Recife,dá uma passadinha em Palmares.Você não quer me conhecer?

Raimunda disse...

Saudades de Seo Nilo, muitas lembranças. Grande abraço e um brinde a ele lá na dimensão onde se encontra alegrando outros corações!

Kadu Mauad disse...

À memória do Seu Nilo!

Unknown disse...

Grande seu Nilo, exemplo de intelectual em nossa Campina Grande!

Anônimo disse...

Deixou uma grande herança!!

Octavio Aragão disse...

Essa é uma maneira de colaborar com a eternidade possível de nossos pais. Parabéns pelo texto e pela herança, Braulio.