(by Laurie Lipton)
Um
escritor famoso faz uma viagem para outro país e, em cartas para os amigos,
comenta a recepção que teve e a vida social em que mergulhou. Dois trechos:
1)
“Esta cidade me engoliu como uma planta carnívora engole uma mosca. Tenho
vivido sem fôlego há cerca de cinquenta dias. A vida aqui consiste em uma série
de encontros marcados com uma ou duas semanas de antecedência: almoço,
coquetel, jantar, festa à noite, são estas as várias fases de um dia,
permitindo-me conhecer novas pessoas o tempo todo, para marcar novos almoços,
novos jantares, novas festas e assim por diante, ao infinito. (..) Isto aqui
não é a terra do imprevisto, mas é a terra de uma vida mais rica, onde todas as
horas do dia estão preenchidas; a terra que nos dá a sensação de estar em plena
atividade, mesmo que muito pouca coisa seja feita, a terra onde a solidão é
impossível (só passei sozinho uma única noite, das cinquenta em que estou
aqui).”
2)
“Não me sinto feliz e estou terrivelmente rouco devido à laringite. A farra
aqui é muito intensa. Você vai para um almoço com oito pessoas e no dia
seguinte cinco delas o convidam para jantar. Assim, tudo que você consegue
fazer é comer, beber e se entediar”.
Tudo
indica que se trata do mesmo sujeito falando sobre o mesmo ambiente, mas as
duas cartas têm origem diferente.
A primeira é do italiano Ítalo Calvino falando sobre sua estadia em Nova York a partir de 1959, quando recebeu uma bolsa para passar seis meses nos EUA.
A segunda é do norte-americano Raymond Chandler falando sobre sua estadia em Londres, em 1955, quando viajou para a Inglaterra tentando fugir à depressão causada pela morte de sua esposa.
A primeira é do italiano Ítalo Calvino falando sobre sua estadia em Nova York a partir de 1959, quando recebeu uma bolsa para passar seis meses nos EUA.
A segunda é do norte-americano Raymond Chandler falando sobre sua estadia em Londres, em 1955, quando viajou para a Inglaterra tentando fugir à depressão causada pela morte de sua esposa.
Um mundo onde não há distinção entre noite e dia, entre dentro e fora. Onde se dorme de luz acesa, vestido, com o quarto cheio de gente. Onde taças cheias de champanhe milionário esquentam esquecidas no parapeito da janela ou na bancada do banheiro.
Onde há sempre alguém rindo e alguém gritando, onde a música não pára, onde se olha pela janela e não se sabe se é o fim da tarde ou o amanhecer, onde carros cheios de gente inebriada e lânguida percorrem a cidade, fechando um bar aqui, abrindo um bar acolá, onde as contas são pagas sem ser conferidas, onde as histórias são contadas dezenas de vezes, onde as gargalhadas se misturam na mesma algazarra que ora parece melodia, ora raiva, ora terror.
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