(Ed Harris em Appaloosa)
A arte da narrativa é como um
isqueiro onde duas pedras se chocam e desse choque sai fagulha. É o choque entre
um personagem e uma situação que o influencia. O personagem, “x”, tem um
conjunto de características dramáticas. A situação, “y”, tem outras. O segredo
é botar o personagem numa situação invulgar, ou complexa, ou violenta, ou
inesperada, que de alguma maneira provoque uma perturbação à qual ele vai ter
que responder, agindo. Ao agir, ele muda a situação, a qual, por sua vez...
Muitas, muitíssimas histórias interessantes se baseiam nessa função de “x e y”,
um personagem tal numa situação qual.
O Xerife Indefeso é um desses
achados. “Xerife” pode ser visto num sentido amplo – o cara responsável pela
ordem ou pelos valores num local. Digo xerife porque na minha memória afetiva
essa imagem está mais associada ao filme de faroeste do que à literatura, embora
cada leitor possa contribuir seus próprios exemplos. O Xerife Indefeso é o Gary
Cooper de Matar ou Morrer, contando os minutos para a chegada dos pistoleiros
que vêm matá-lo, e pedindo ajuda, inutilmente, à população, que deixa tudo nas
suas mãos e se esconde. É o xerife ético e irritadiço de Marlon Brando, na Caçada Humana de Arthur Penn, querendo impor, mais até que a lei, a voz da
sensatez numa cidadezinha endinheirada, bêbada, preconceituosa e violenta.
Esse personagem é interessante
porque é o lado solitário do poder. Uma versão simétrica ao Pistoleiro
Solitário (Shane, os filmes de Eastwood, etc.), que é marginal e se garante
sozinho. O Xerife Indefeso é o representante da lei, da justiça e do governo; e
muitas vezes está só, acuado na lei da selva.
Eu ia dar um exemplo noutro
gênero e me veio à mente Outland – Comando Titânio, com Sean Connery como o
policial de uma estação espacial mineradora. Mas esse filme é conhecido
justamente como uma versão tecno-futurista de Matar ou Morrer. Apesar de ter
um roteiro com outras tramas paralelas, ele tem essa mesma contagem regressiva
para a chegada da espaçonave com os pistoleiros que vêm matar Connery.
Um comentário:
acho que o de ONDE AOS FRACOS NÃO TÊM VEZ cabe aí
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