sexta-feira, 26 de abril de 2013

3170) Teorias da Conspiração (26.4.2013)






O atentado a bomba na Maratona de Boston e o subsequente cerco policial aos irmãos chechenos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev estão sendo tomografados e dissecados na Internet. Muita gente questiona as explicações oficiais . Os mais veementes bradam que foi tudo mentira, tudo encenação, tudo é uma conspiração entre o Governo e algumas agências secretas, obscuras, cujos propósitos não podem ser coisa muito boa para qualquer país.

Acham que os irmãos entraram como bodes expiatórios. Que parte dos feridos eram atores, manchados de sangue artificial, que as verdadeiras bombas foram colocadas por outras pessoas, que Tamerlane foi preso vivo e chegou morto ao hospital, etc.  Há um vídeo absurdo, não explicado, em que ele (supõe-se que seja ele) aparece nu, algemado, entrando na viatura. E dizem que morreu no tiroteio, inclusive atropelado pelo irmão na fuga? Assim como o que ocorreu no 11 de setembro, há um matagal de coisas mal explicadas.

Já notei que os mais entusiastas defensores das Teorias da Conspiração são os jovens. Sua virtude é duvidar de tudo, seu defeito é crer de tudo, e passam de um para o outro com uma facilidade assombrosa. Sei disso porque fui e creio até que ainda sou um deles, dos que se apaixonam por uma teoria não pelo seu teor profético ou antecipatório, mas pela beleza da cambalhota mental de quem a fez. Uma teoria tem que ser como uma paranóia; um arranjo de idéias tão de-ferro que ninguém consiga produzir-lhe um “dente”; e tão flexível que assimile tudo, justifique tudo.

Os jovens acabaram de fazer a transição traumática entre certas crenças de criança e certas verdades de adolescente. Descobrem que foram frequente e variadamente enganados por pais, professores, presidentes. Desse dia em diante sua vida é regida por Kafka e George Orwell.  Eles não acreditam e não confiam mais em ninguém.

Sou assim. Dois dos meus livros fundadores são (ferozmente questionados, como também cultuados por toda parte): O Despertar dos Mágicos de Pauwels e Bergier, e As Veias Abertas da América Latina de Eduardo Galeano. Um é meio contracultura, o outro é meio de esquerda, mas mesmo quem ironiza essas épocas precisa recorrer a sua imaginação. Estes livros são dois exemplos cabais de teorias conspiratórias encharcadas de verdades, fervilhantes de fatos. Seja o delírio alquímico-surreal e FC-ocultista dos franceses, seja o jornalismo investigativo e imaginativo, a colagem de lendas e notícias do uruguaio. Mesmo que todos os nomes próprios ali fossem trocados, aquelas histórias continuariam substancialmente verdadeiras, como o são todas as fábulas, todas as grandes obras de ficção.



4 comentários:

CORINTIANO VOADOR disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CORINTIANO VOADOR disse...

Bem, a Navalha de Ockham. O que é a Navalha de Ockham frente à imaginação? Só sei que são duas e dezesseis da manhã, não sou um monge e nem inglês...o Princípio da Parcimônia que se dane, vamos à imaginação...conspirações, conspirações...

Anônimo disse...

De vez em outra, eu me olho no espelho e me pergunto: quem sou eu, mas acabo pegando o metrô, cumprindo as burocracias do sistema, escolhendo personagens para ser, como uma mãe, um revolucionário, um servidor, um mendigo, um rábula, um sindicalista, um escritor, um pobre artista, era melhor ter cursado medicina. São tantos personagens que posso escolher, eu devo escolher aquele que se mistura melhor com a minha essência e meu riso? Para ajudar na escolha, eu enredo histórias para cada, o que suaviza o desejo de ser médico: quando me imagino no ápice da carreira tratando gripes, mentindo as minhas origens, aquecendo as cadeiras dos bares da França, esquiando pequenos morros da suíça, no final para dizer aos meus que já fui à França, mas não faço ideia o que um homem comum come na França, ou se ele caga em buracos perto de casa ou na privada, se ele come pão francês. Daí, a minha angústia na medicina acaba da forma como começou: sem sentido. No trabalho, entre carimbos, processos e telefonemas burocráticos: “ Senhora, você deve comparecer na segunda-feira pela manhã e pegar a segunda via, na segunda hora do dia, segundo me foi passado.” Eu me pergunto o que estou fazendo ali: daí, eu me lembro que na verdade, não sou eu, é uma personagem e que eu tenho outro personagem para ser. Eu me visto de revolucionária coloco as minhas roupas amarelas, participo do silêncio das invasões do MTST, invadimos um prédio, eu me visto de vermelho e escondo as informações de que vamos invadir as terras de Gilmar Mendes, depois das invasões, vêm os conchavos, eu me pergunto: “ O que eu estou fazendo aqui”, eu me lembro que é só uma personagem. Eu chego,, tiro as tintas de palhaço. Coloco uma música, imagino uma nova personagem, escuto ouro de tolo, desanimo da metade dos personagens que havia inventado, pois todos sem exceção, vão ficar com os dentes escancarados esperando a morte chegar. Penso no suicídio, mas na verdade eu mataria apenas um personagem, pois essa é a história do absurdo. No final da música eu vou dormir, onde assenta a sombra sonora de um disco voador.

Jan Nuestrádamos disse...

Mas o que diabos os agentes da Craft estavam fazendo na cena dos atentados??