(Ian Ference)
Ruínas
urbanas mostram como o metabolismo da civilização parece com o do corpo humano.
Morte e nascimento o tempo inteiro. Não apenas a destruição violenta das
guerras, terremotos, catástrofes; mas a do abandono político, do descarte
imobiliário, da obsolescência física por desmando ou falta de planejamento. Construções
que perdem a função e não são demolidas, apenas deixadas de lado para que a
Natureza reabsorva suas matérias primas.
Hospitais
caindo aos pedaços ou indústrias tomadas pelo matagal bravio são contrapartidas
concretas, visíveis, para todos os outros tipos de estagnação e desmoronamento.
Grandes grupos financeiros que quebram, afundam e são canibalizados pelos
Bancos maiores. Partidos políticos cujas lideranças debandam após a primeira
grande crise, deixando atrás de si apenas uma legenda baldia a ser ocupada pela
matilha anônima de oportunistas e aproveitadores. Sobrenomes aristocráticos
cuja liquidez financeira se esvai, na lenta sangria que faz definhar uma
geração após a outra; e que tentam manter-se à tona do anonimato mediante
colunas sociais e matrimônios políticos. Empresas que floresceram e incharam,
primeiro graças ao protecionismo, depois ao monopólio, mas cuja espinha é
quebrada por uma reviravolta tecnológica e sobrevivem vendendo as partes
não-vitais de sua estrutura, até se desfazerem num farelo de ações sem valor.
Por
toda parte percebemos essas lentas implosões sociais; às vezes levam um século
para chegar ao fim. Estruturas vazias de vida, ou vazias da energia necessária
para mantê-las vivas; estádios de arquibancadas derruídas cercando um enorme atoleiro;
colégios desabando sob tetos apodrecidos de chuva; fábricas habitadas somente por
lagartixas e lacraus. A pressa com que a arquitetura e a engenharia põem de pé
essas estruturas arrogantes é inversamente proporcional ao tempo que a Natureza
dedica a varrê-las do mapa com o vento suave da passagem dos anos. As ruínas
célebres do mundo (pirâmides, coliseu) funcionam como um relógio em contagem
regressiva, rumando para o oblívio mas parecendo nos dizer que seu terrível recado
ainda não foi escutado por todos.
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