terça-feira, 18 de dezembro de 2012

3059) A Vida e os Tempos de Tambarú Zumbiterrâneo (18.12.2012)




(by plaxma)


Cap. 1 – De como Tambarú Zumbiterrâneo só teve sua infância revelada publicamente quanto contava mais de 40 anos, portanto somente então se soube que foi uma infância igual a qualquer outra.

Cap. 2 – De como a primeira coisa insólita que ocorreu em sua vida foi quando aos 18 anos aproximou-se de uma batida de carro, viu um rapaz morto, percebeu que estava vivo, e nunca mais foi o mesmo.

Cap. 3 – De como ele pareceu adquirir uma consciência multidimensional e uma intuição ortogonal em relação ao mundo biológico, e tentou expressar isto através da obra de uma banda punk chamada Agulhas Negras. 

Cap. 4 – De como ele devorou toda a obra de Lovecraft durante uma hepatite, fez-se tatuar à medida que ia lendo cada capítulo do I-Ching, descobriu um sistema confiável para ganhar no pôquer, escreveu um manual astrológico inventado que vendeu assustadoramente bem, pagou micos em público por causa de bebuns e bumbuns, passou triscando numa gringa saradona que quase topa financiá-lo.

Cap 5 – De como certo dia abriu-se a janela de uma casa quase em frente ao bar e surgiu uma moreninha de peitinhos retesos numa semiblusa que se apoiou nos braços, cruzou-os, descruzou-os, deixou-se ver, cruzou o olho com o dele, ferrou-o em brasa e sumiu.

Cap. 6 – De como ele foi imediatamente bater à porta, chamou-a na calçada e num piscar de olhos estavam com tudo acertado, coisa rara nos dias de hoje. 

Cap. 7 – De como ela revelou talento para lidar com dinheiro, quando ele jamais tivera nem uma coisa nem outra, e logo os dois decidiram criar juntos um websaite com blog, uma revista em quadrinhos, um CD de raga-noir indiano fake e um husky siberiano chamado The Thing. 

Cap. 8 – De como eles espremeram até a última gota a esponja empapaçada do mercado alternativo dessa área temática a que chamavam “as mil e uma noites marcianas”.

Cap. 9 – De como eles ralaram, sorriram, brigaram, beberam, se desuniram, tergiversaram, faltaram com a mais elementar sensatez humana, traíram e se traíram, se arrependeram e se torturaram, trincaram dentes, continuaram.

Cap. 10 – De como um deles soube um dia o que é estar entre dez mil pessoas e ver todas elas à espera da sua palavra, do seu gesto.

Cap. 11 – De como outro deles encontrou, num momento de sombra, de silêncio, de solidão, alguma coisa que buscara a vida inteira. 

Cap. 12 – De como um cristal de dez milhões de anos se partiu, de como por um certo tempo parece que o céu não lhes sorriu, o apartamento foi desapropriado para deixar passar uma avenida inteira, e eles se despediram, para sempre, como amigos, o que também não é muito fácil de acontecer.



2 comentários:

Kyanja Lee disse...

Eu leria um romance com essa pegada! Hehehe...

Gostei de todos os capítulos, mas gostei mais desse (embora seja o menos sarcástico de todos e talvez até mais lugar-comum em relação à bem construída ironia dos demais):

Cap. 11 – De como outro deles encontrou, num momento de sombra, de silêncio, de solidão, alguma coisa que buscara a vida inteira.

Braulio Tavares disse...

Cada capítulo é uma história por si só, Kyanja. Como a vida é curta, o jeito é fazer romances de uma lauda...