sábado, 29 de outubro de 2011
2700) Spoilers (29.10.2011)
O verbo inglês “to spoil” significa, entre outras coisas, “estragar um prazer”. Um spoiler é qualquer coisa – geralmente uma informação – que estraga a surpresa de um filme, um livro, etc. Os mais antigos hão de se lembrar duma antiga charge de Péricles em que O Amigo da Onça sai do cinema e passa ao longo da fila de espectadores que se preparam para entrar na próxima sessão, dizendo em voz alta: “O assassino é o pai da moça... O assassino é o pai da moça...”.
O risco de estragar a surpresa alheia sempre existiu, mas só com a Internet (acho) surgiu o hábito de anunciar a presença dessas revelações. Quando a gente vê num resumo ou numa discussão de uma história alguma advertência (“Warning: Spoilers!”, “Spoilers ahead!”, etc.), já sabe que se ler o trecho seguinte vai ficar sabendo algo que preferiria não saber. Ainda não temos um termo em português que substitua este, uma palavra curta e precisa que diga o que é sem maiores explicações.
Pois muito bem. Uma pesquisa (http://bit.ly/tTOfkw) feita na Universidade da California em San Diego deu a três grupos de estudantes histórias de autores como Tchecov, Raymond Carver, Roald Dahl, etc. Cada grupo recebeu versões diferentes de cada história: no primeiro, o segredo ou surpresa da história era revelado numa breve introdução antes do início; em outro, essa revelação era integrada à história original como se fizesse parte dela; um terceiro grupo recebia a história intacta. Os pesquisadores constataram que as pessoas gostavam mais das histórias cujo final era revelado por antecipação; e curiosamente isto só ocorria quando o final era revelado num parágrafo à parte, como introdução ao conto. Quando a revelação era integrada à história, não havia diferença visível no grau de apreciação. A hipótese dos pesquisadores é de que um “spoiler” pode fornecer um esquema de organização para as informações da história que se segue, levando a uma compreensão mais fácil e a uma fruição maior. Os spoilers também podem aumentar a expectativa por eventos futuros, aumentando assim o prazer da leitura.
Isto toca de perto uma questão importante da narrativa: a diferença entre Surpresa e Suspense. Surpresa é quando o personagem cai na calçada e depois da queda vemos que pisou numa casca de banana. Suspense é quando mostramos a casca de banana e o personagem, distraído, aproximando-se dela. Muitas histórias policiais, por exemplo, revelam já na metade (ou mesmo no começo do livro) quem é o criminoso, mas conduzem a narrativa de tal modo que o fato de ter essa informação aumenta o prazer da leitura, ao invés de diminuí-lo. Como? Ah, amigos, é uma simples questão de engenho e arte.
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5 comentários:
García Márquez era um profeta! Ele anunciava as mortes em crônicas longas.
ola
me chamo andre
estava passando e notei o seu blog
gostei muito , sou um poeta tbm iniciante mais sou , gosto de poesia cada poesia ela passa uma mensagem unica.
e com isso eu gostaria de forma uma sociedade .
para eu conhecer novas poesia e novos poetas.
caso voce interesa visite o meu blog http://sociedadedospoeta.blogspot.com/
obrigado pela atençao sua
O meu exemplo preferido disso é em "A insustentavel leveza do ser".Certos spoilers são grandes armadilhas para o leitor, e sem duvida uma boa isca para faze-lo ir até o fim em busca do momento já anunciado.
Procure "Um Julgamento em Pedra" de Ruth Rendell. Na primeira linha do livro ela revela o assassino, a vítima e o motivo. E não há quem não leia até o fim, para entender o que houve.
Em tempo: a edição da L & PM tem o título "Um assassino entre nós", mas é o mesmo "A Judgement in Stone".
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