terça-feira, 14 de dezembro de 2010
2426) “Outland – Comando Titânio” (14.12.2010)
Este filme de FC dirigido por Peter Hyams (o mesmo de 2010, o ano em que faremos contato) não é um grande filme mas tem uma narrativa tensa, que combina bem com a ambientação claustrofóbica. (Ele concorreu ao Prêmio Hugo de “Best Dramatic Presentation”, perdendo para Os Caçadores da Arca Perdida.) Pode funcionar muito bem num curso ou numa oficina de roteiro, para discussão de elementos de gênero, porque é uma mescla perfeita de três gêneros: a FC, o filme policial e o faroeste.
A história se passa numa estação mineradora, num satélite de Júpiter de onde se extrai o titânio. A estação é visitada uma vez por semana por uma nave que traz material, suprimentos, turmas de operários para revezamento, etc. Sean Connery é O’Niel, um chefe de segurança (chamado de xerife, “marshal”) recém-chegado após algumas mortes misteriosas terem ocorrido. Logo de cara ele percebe que tem alguma coisa muitíssimo errada, e que isso provavelmente tem a ver com Sheppard, o diretor da mina. Não demora muito para ele descobrir que uma droga ilegal está sendo contrabandeada para a estação, sob a orientação do diretor. A droga faz os operários produzirem o dobro, mas depois de algum tempo provoca alucinações e ataque homicidas. O’Niel prende alguns dos traficantes, mas descobre que Sheppard chamou dois matadores profissionais que deverão chegar na próxima nave, daí a 70 horas. Ele começa a percorrer os corredores pressurizados da base, falando com uns e com outros, e descobre que ninguém, entre as centenas de operários da mina, está disposto a arriscar a vida para ajudá-lo.
O filme é FC pela ambientação interplanetária, futurista. É um thriller policial pela trama em que se sucedem mortes misteriosas, uma investigação científica, o desmascaramento dos criminosos, o confronto violento. É a categorização como faroeste que coloca o crítico numa situação curiosa. Pode haver faroeste sem cavalos, cowboys, índios, etc.? Pode ser faroeste sem a ambientação rural dos EUA no século 19? Eu diria que sim. O filme partilha com o faroeste uma característica mais sutil: a ambientação da vida na fronteira (no caso, uma fronteira interplanetária), e a presença de um representante do Estado tentando manter a ordem num ambiente em que vigora a lei-do-mais-forte. Há também, colateralmente, a citação explícita a Matar ou Morrer (1952), em que um homem sozinho aguarda, sem ajuda, a chegada dos bandidos que vêm para matá-lo.
Tão típico quanto os cavalos, para o western, é esse conflito e essa superposição de dois sistemas sociais. Um drama em que homens de um rude ambiente rural têm que se dobrar a uma lei remota, concebida nos gabinetes do mundo urbano. (É este o grande tema de clássicos como O Homem que Matou o Facínora de John Ford.) O western não é só a luta entre cowboys e índios, é também a história da luta entre a pistola do Sertão e o Código Penal trazido pelos representantes de um “contrato social” mais amplo.
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