A feira de Campina Grande, virtualmente destruída pelos carros-bomba e pelos incêndios, foi cercada pelo Exército Ocupante, da Vila Nova da Rainha até a Avenida Canal, com muralhas anti-bomba de 3 metros de altura. O comércio está se recuperando, mas as pessoas preferem encomendar produtos do que ir à feira, com medo de ataques. Os carros de entrega têm que trocar de motorista ao atravessar cada bairro, para evitar que sejam assassinados pela minoria que domina a área. A boa notícia é que há eletricidade três ou quatro horas por dia.
O bairro da Prata está sob controle dos exércitos (local e Ocupante). O problema ainda são as bombas-armadilha colocadas no lixo e nos cadáveres, o que leva a população a deixá-los apodrecendo na rua. Zé Pinheiro foi até recentemente palco de carnificinas entre os dois exércitos e as milícias armadas. Agora, cercado por muros, viu a violência diminuir mas a população se sente prisioneira.
A situação não é melhor no Cabo Branco, outrora um bairro de elite, está há meses sem esgoto, sem coleta de lixo, e eletricidade, quando há, é apenas uma hora por dia. Manaíra está virtualmente arrasada pelos carros-bombas que há anos explodem ali à razão de um por semana, e o seu shopping foi reduzido a ruínas. O Miramar, depois de controlado por um dos exércitos étnicos locais, experimenta um breve período de paz: apenas um ou dois cadáveres aparecem nas ruas por semana, comparados com 30 ou 40 que surgiam no fim do ano passado. Os conflitos diminuíram graças ao virtual extermínio ou expulsão de todas as famílias pertencentes à minoria étnica rival.
E aí, caro leitor? Teve um espasmo de estranheza, um calafrio de presságio? O que está aí em cima é apenas um exercício de ficção-científica (pense 1984 de Orwell, ou pense Fahrenheit 451 de Bradbury & Truffaut) para tornar mais real, projetando-o no que nos é próximo, o que nos parece irrelevante porque acontece longe de nós. Resulta de uma visita que fiz domingo ao saite do New York Times, onde há um útil mapa interativo de Bagdá mostrando a situação atual em dezesseis bairros ou áreas da capital iraquiana. Ele mostra como o poder é exercido a mão armada pelos exércitos iraquiano e americano, que reprimem as milícias armadas xiitas e sunitas, e ainda têm que lidar com o terrorismo anônimo dos carros-bomba e dos morteiros.
O endereço completo é: http://www.nytimes.com/interactive/2007/09/06/world/middleeast/20070907_BUILDUP_MAIN_GRAPHIC.html#. Aconselho uma visita para que possamos todos acompanhar ao vivo a situação. Imaginem uma luta de boxe entre dois pesos-pesados, só que a luta degenerou em briga pessoal e os dois estão querendo bater no outro até matar. Só não o fizeram ainda porque o juiz, neste caso, é um cara do tamanho de Muhammad Ali e faz o que pode para mantê-los à distância. Na hora em que o juiz (o exército dos EUA), abandonar o ringue, a carnagem vai ser grande. E os detalhes não vão poder sair no New York Times.
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