(Silvia Pinal e Claudio Brook, Simão do Deserto, de Luís Buñuel)
Há um filme de Luís Buñuel, Simão do Deserto, inspirado na tradição dos “estilitas” (não é “estilistas”), indivíduos que, para atingir o êxtase religioso, se martirizavam subindo numa coluna de pedra, onde passavam meses a fio, sem descer.
Esse martírio sempre me pareceu um negócio meio narcisista. O sujeito que quer mesmo meditar, se concentrar na idéia de Deus, afastar-se das coisas do mundo, deve ir para o fundo duma caverna, como Santo Antão. Ficar em cima de um pedestal sempre me pareceu negócio para pop-star, e o filme de Don Luís, convenientemente, se encerra com Simão sendo raptado pelo Diabo (interpretado por uma louraça-belzebu, Sílvia Piñal) e conduzido a uma buate onde fica sentado na mesa, ouvindo uma banda de rock.
“Estilita” significa “que vive no alto de uma coluna”. O Dicionário Houaiss não o registra, o Aurélio sim; Affonso Romano de Sant´Anna recentemente usou esta imagem, com bom-humor, para se auto-intitular estilita, por ter uma coluna semanal a escrever. (Semanal, Mestre Affonso? Moleza!)
“Estilita” significa “que vive no alto de uma coluna”. O Dicionário Houaiss não o registra, o Aurélio sim; Affonso Romano de Sant´Anna recentemente usou esta imagem, com bom-humor, para se auto-intitular estilita, por ter uma coluna semanal a escrever. (Semanal, Mestre Affonso? Moleza!)
Os estilitas de hoje, no entanto, não me parecem ser os místicos, os eremitas, e sim os pop-stars. O cara não entra para este ramo porque quer se isolar do mundo ou se aproximar de Deus. Ele entra porque quer subir num pedestal (a TV, o cinema, o rock) e ser visto por bilhões de pessoas. E existem bilhões de pessoas dispostas a passar a vida olhando para elas, não porque elas sejam algo fora do comum, mas porque estão no pedestal.
O que é esse “Big Brother” da Globo (e seus congêneres) senão um mero pedestal? Ficam milhões de pessoas olhando aquela idiotice. Por que? Porque está em cima de um pedestal. (Ver coluna “Debruçado sobre Abbey Road”, 26.2.2004)
Se você construir um pedestal e pendurar lá em cima uma galinha morta, apodrecendo de cabeça para baixo, vai ter gente parando, sentando, olhando, admirando, discutindo... Porque é uma galinha morta? Não: porque está em cima de um pedestal. É assim grande parte das chamadas “obras de arte” das Bienais de hoje, e nesse ponto concordo com Affonso Romano, que há anos vem se batendo contra essa bobagem de se chamar qualquer galinha morta de “Arte” somente porque meia dúzia de espertinhos a colocaram num pedestal e começaram a vender ingressos.
Em seu “Sermão de Todos os Santos”, o Padre António Vieira comenta a vida de Simão Estilita, e diz:
Se você construir um pedestal e pendurar lá em cima uma galinha morta, apodrecendo de cabeça para baixo, vai ter gente parando, sentando, olhando, admirando, discutindo... Porque é uma galinha morta? Não: porque está em cima de um pedestal. É assim grande parte das chamadas “obras de arte” das Bienais de hoje, e nesse ponto concordo com Affonso Romano, que há anos vem se batendo contra essa bobagem de se chamar qualquer galinha morta de “Arte” somente porque meia dúzia de espertinhos a colocaram num pedestal e começaram a vender ingressos.
Em seu “Sermão de Todos os Santos”, o Padre António Vieira comenta a vida de Simão Estilita, e diz:
“Umas vezes orava de joelhos e prostrado, outras em pé e com os braços abertos, e nesta postura estava reverenciando continuamente a Deus com tão profundas inclinações, que dobrava a cabeça até os artelhos. Teodoreto, testemunha de vista, quis saber o número a estas inclinações, e tendo contado mil duzentas e quarenta e quatro, cansado de contar, não foi por diante.”
Assim é a mídia, o show-business, o Art-business do mundo de hoje. Cada Simão tem um milhão de Teodoretos dispostos a ficar biguebrodeando sua vida 24 horas por dia. Não são devotos do santo: são os escravos do pedestal.
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