sexta-feira, 12 de junho de 2015

3839) "A Estrada Perdida" (13.6.2015)




Estou coordenando, para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes nos sábados às 14:00h, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Após a sessão, neste sábado, haverá debate com o prof. Sérgio Almeida.)

Hoje, sábado 13 de junho, será exibido A Estrada Perdida (Lost Highway) de David Lynch (1997), que é um filme difícil de colocar numa categoria: não é uma fantasia como O Ladrão de Bagdá nem um filme de terror clássico como Sangue de Pantera ou Os Inocentes. É um filme em que coisas estranhas acontecem com pessoas comuns, e onde em certos momentos a realidade (a realidade vivida por elas) parece se fraturar e depois se recompor de um modo improvável e incômodo. Lynch dizia: “Gosto de fazer filmes que acontecem na América, mas que levam as pessoas para lugares onde elas nunca poderiam ter ido; para dentro das profundezas do seu ser.”



O filme começa mostrando um casal que recebe anonimamente fitas VHS mostrando sua casa filmada de fora. Logo depois chegam imagens do lado de dentro, e por fim fitas filmadas dentro do quarto, mostrando o casal adormecido. A sensação de insegurança e medo fica mais intensa, principalmente pelo uso da música e do som. Neste filme, além do seu compositor habitual (Angelo Badalamenti), Lynch usou canções de David Bowie, de Trent Reznor (da banda Nine Inch Nails) e da banda alemã Rammstein, que segundo ele virou a favorita da equipe e cujos cassetes tocavam o dia inteiro nos intervalos da filmagem.



Segundo Lynch, a idéia para o filme veio da vida real, quando um dia o interfone do seu apartamento tocou, ele acordou, atendeu, e uma voz de homem disse: “Dave!”, e ele: “Sim?”, e o homem: “Dick Laurant morreu.” E desligou. Lynch foi à janela olhar lá fora e não viu ninguém; e não conhecia ninguém chamado “Dick Laurant”. Que evidentemente tornou-se um dos personagens do filme. Sobre este, o diretor diz: “É sobre um casal que sente que em alguma parte, bem na fronteira da sua consciência, ou do outro lado dessa fronteira, existem problemas sérios, muito sérios. Mas eles não conseguem trazer esses problemas para o mundo e encará-los. De modo que essa sensação ruim fica pairando, e os problemas se abstraem e se transformam em outra coisas”.


A Estrada Perdida tem uma narrativa fraturada, desconcertante; é uma história de mistério e suspense, aparentemente comum, mas com “quebras de realidade” que deixam o espectador sem chão.  É um filme à altura dos trabalhos mais inquietantes do diretor, como 
Veludo Azul ou Cidade dos Sonhos (Mullholland Drive).




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