quarta-feira, 5 de agosto de 2009

1170) A morte quântica de James Kim (13.12.2006)


(James Kim)

Suponhamos, leitor, que você está viajando de carro, com sua esposa e duas filhas pequenas. A certa altura, você pega uma entrada errada, sem perceber, e segue em frente, certo de que chegará em algumas horas à cidade para onde vai. Mas você agora está na verdade penetrando num Parque Nacional, uma reserva ecológica pouco habitada. Quando percebe que se perdeu, seus celulares já estão fora de área. Você faz meia-volta para procurar a rodovia principal, mas (“Ih, devia ter abastecido naquele posto!”) sua gasolina está acabando. E começa a nevar. No carro não há comida alguma além de papinhas de bebê, biscoitos e água mineral. Nenhuma comunicação com o mundo. Você estaciona num local aberto de onde possa ser visto por um possível helicóptero de busca; mas como dar o alarme? Passa-se um dia; passam-se dois, três. O frio é intenso, mesmo dentro do carro. Sua mulher e suas filhas olham para você, esperando uma decisão. Você continua esperando, ou deixa-as ali e parte em busca de socorro?

Este é, cientificamente, um ponto de decisão, de mutação, de inflexão. Um momento em que qualquer decisão tomada conduzirá a um desfecho diferente. É um momento quântico no sentido de que algo já começou a acontecer, mas você não sabe o quê. Os dados de que dispõe são insuficientes. Quanto durará a nevasca? Alguém já deu o alarme? Queimar os pneus, de um em um, lhes dará calor pelo tempo necessário? Em que direção, e a que distância, fica o socorro mais próximo? Em suma: é mais certo esperar, ou ir à luta?

Foi isto que aconteceu semanas atrás com o jornalista James Kim, que se perdeu num parque do Oregon. Kim deixou a família no carro e foi em busca de socorro. Pouco tempo depois, o carro foi encontrado pelas equipes de busca e a família foi salva. O corpo de Kim foi encontrado dias mais tarde, junto ao riacho cujo curso ele estava acompanhando, esperando achar alguém. Kim morreu de hipotermia a cerca de uma milha de distância de um abrigo onde teria podido encontrar calor e comida. É fácil agora, depois que se sabe o que aconteceu (depois que a função colapsou) dizer que a escolha de Kim foi errada. Talvez ele tenha cedido àquele impulso (ao qual imagino que eu talvez cedesse também) de pensar: “Ora que diabo, estamos parados aqui há dias e nada acontece! Preciso fazer alguma coisa!” É uma decisão sensata, emocionalmente justificada e racionalmente aceitável. Mas sabemos agora que foi a decisão errada, e que o certo seria ter paciência e esperar mais um pouco.

Até mesmo aqui, no universo macro, tão distante do mundo subatômico, vemo-nos às vezes no interior de uma função dinâmica, complexa, que está se encaminhando para um resultado que não podemos prever mas na qual devemos interferir com a observação A ou B. E o modo como escolhemos conferir o resultado final sempre influencia, de um modo ou de outro, o que acontecerá (e que, de certa maneira, já tinha começado a acontecer).

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