domingo, 21 de junho de 2009

1106) Os Nove Desconhecidos (1.10.2006)




(Gilbert Garcin: "L'Inconnu")

Entre as Teorias da Conspiração que circulam por aí, uma das mais curiosas é a dos Nove Desconhecidos. As fontes a respeito são contraditórias, ou melhor, caóticas e desencontradas, mas concordam num aspecto básico. 

Dizem que há muitos séculos existem no mundo nove indivíduos espiritualmente íntegros, detentores de um saber extraordinário e secreto, cuidadosamente guardado e transmitido através dos tempos. Algumas versões falam que cada um desses indivíduos é guardião de um Livro, o qual nunca pára de ser atualizado com novas descobertas.

Seriam nove livros contendo os segredos essenciais de nove ramos do conhecimento: 

1) lingüística; 
2) fisiologia; 
3) microbiologia; 
4) transmutação dos metais; 
5) telecomunicações; 
6) gravitação; 
7) cosmogonia; 
8) luz; 
9) sociologia. 

Esta é uma das diferentes listas que são reproduzidas em livros e saites por aí. Me parece uma lista meio caótica, até porque os itens 6, 7 e 8 lidam com assuntos muito próximos e pela lógica científica deveriam constituir um único campo. 

Em todo caso, dizem que às vezes acontecem “vazamentos” de informações em alguma destas áreas. O Judô, por exemplo, teria tido origem num vazamento do Livro 2, onde se fala de técnicas que possibilitam matar ou imobilizar um indivíduo apenas tocando em seu corpo, sem o emprego de armas. A Alquimia Medieval teria sido outro vazamento, desta vez de processos contidos no Livro 4. E assim por diante.

Segundo outras interpretações, no entanto, a coisa é menos conspiratorial e mais filosófica. Os Nove Desconhecidos são um número meramente simbólico. Não existem “Livros” secretamente mantidos e atualizados – fico imaginando, aliás, quantos milhares de páginas teriam estes livros, a esta altura do campeonato.

A lenda dos Nove Desconhecidos assevera que deve-se a eles a sobrevivência moral da Humanidade, e o fato de que a nossa espécie ainda não tenha sido consumida pelas guerras, pelas pestes ou pelo caos social. Incógnitos, anônimos, humildes, eles trabalham em surdina, enquanto os governos, os exércitos e as corporações depredam o mundo. 

Mas não são apenas nove. São muitos mais.

Há uma narrativa sobre um sujeito que dedica sua vida a investigar esta lenda. Procurando aproximar-se dos detentores dos nove livros mágicos, ele estuda a fundo todas estas matérias, deduzindo que cedo ou tarde, se se aprofundar o bastante, seu caminho acabará cruzando com pelo menos um desses mestres. Torna-se muito respeitado entre os outros sábios, embora ninguém o conheça nos meios intelectuais, nas cortes, no meio da nobreza. 

Já bem velho, perto de morrer, alguém lhe traz, para traduzir, um documento escrito num idioma obscuro, garantindo-lhe ser a prova concreta da existência de um dos Nove Desconhecidos; é a biografia completa de um deles. Quando começa a ler, ele descobre ali a história de sua própria vida. Ele era um dos sujeitos que mantinham viva a sabedoria e a honestidade.