Uma canção emblemática da minha geração era “Forever Young”, de Bob Dylan (do álbum Planet Waves, 1974). Quem não se deixaria seduzir por uma canção intitulada “Jovem para sempre”? Era tudo que a gente queria. Aliás, não só nós, mas também aqueles alquimistas medievais e conquistadores ibéricos que procuravam o elixir ou a fonte da Eterna Juventude.
Mal sabíamos nós que estávamos vivendo as décadas iniciais de um processo que Joseph Epstein disseca sem pena num artigo no Weekly Standard intitulado “The Perpetual Adolescent”. Ele lembra que antigamente a vida tinha a estrutura de uma peça aristotélica: começo, meio e fim. Cada uma dessas partes tinha prós e contras, mas a parte do meio, a vida adulta, era a parte mais séria, onde as coisas mais importantes aconteciam. A juventude era um estágio.
Hoje, no entanto, a juventude não é vista apenas como a parte bonita da vida: é um objetivo, uma condição que a ciência, a moda e a indústria farmacêutica procuram tornar permanente.
Cinema, música, a cultura de massas em geral, tudo pressiona o indivíduo a fazer o possível para não se despregar dessa época em que o indivíduo conquista a liberdade para consumir o que quiser: bebidas, cigarros, automóveis, revistas, CDs, jeans, camisas, sexo, drogas, rock-and-roll, tudo que o Mercado oferece.
Por outro lado, é a fase da vida em que a energia, a ambição e a audácia são considerados valores absolutos. Epstein cita um empregado da Enron que, após a falência catastrófica da empresa, comentou: “O problema é que ali não tinha ninguém que fosse adulto”.
A publicidade nos faz crer que podemos ser sempre jovens; e mais, que devemos, e que queremos ser sempre jovens. A juventude é definida nos seus aspectos cosméticos: rostos sem rugas, corpos musculosos, roupas da moda, energia para praticar esportes e consumir drogas.
Voltamos, curiosamente, ao mundo dos alquimistas medievais e suas poções mágicas. Quer ser eternamente jovem? Beba isto aqui. Vista isto aqui. Use isto aqui.
A canção de Dylan, curiosamente, dizia:
Que Deus te abençoe e te ampare sempre. Que teus desejos se realizem, e que você possa fazer aos outros o que eles lhe fazem. Que você construa uma escada para as estrelas, e possa subir cada degrau. Que você cresça para ser justo, para ser verdadeiro. Que você sempre veja as luzes e perceba a verdade à sua volta. Que você tenha coragem, e saiba manter-se firme e forte. Que suas mãos estejam sempre ocupadas, e seus pés sejam sempre ágeis. Que você tenha alicerces sólidos quando os ventos da mudança soprarem. Que o seu coração seja sempre alegre, e sua canção possa ser sempre cantada... e que você seja jovem para sempre.
Somente hoje (será tarde demais?) eu percebo que o que Dylan estava nos desejando era que amadurecêssemos sem medo, ficássemos adultos sem remorsos, envelhecêssemos com sabedoria, e recebêssemos a morte com a mesma humildade com que recebemos a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário