sábado, 29 de março de 2008

0322) O efeito Ono-Chapman (1.4.2004)


(Yoko Ono)

Quando ouvi a notícia, não acreditei, e corri à Internet para verificar. Pensando bem, se fui verificar é porque acreditei um pouquinho, não é verdade? Se não acreditasse, encolhia os ombros e ia pensar noutra coisa. Mas a notícia era tão fantástica que merecia ser checada. Yoko Ono está noiva de Mark Chapman, o assassino de seu marido John Lennon. A julgar pelas informações, nos últimos anos Yoko fêz uma série de visitas a Chapman (que cumpre prisão perpétua na prisão de Attica), como parte de uma campanha mundial voltada para a paz e o perdão. Nesses contatos, Chapman abriu o coração, e confessou as inseguranças e paranóias que o levaram ao crime. Tocada pela sua evidente sinceridade e pelo seu arrependimento, Yoko foi aos poucos se apaixonando pelo rapaz, que afinal de contas era apenas mais um beatlemaníaco como tantos outros... E os dois teriam anunciado em público o seu noivado.

Parece absurdo, não é mesmo? Tanto parece que é. É mais um dos inúmeros primeiros-de-abril (desta vez um tanto adiantado) que todo ano circulam na Internet. Quem quiser ver o texto completo da pegadinha pode ir ao saite Tomate Maravilha (http://tomate2.blogger.com.br/) . Tudo bem, era só brincadeira. Mas por que essas coisas colam? Porque, no fundo, sabemos que nada é tão absurdo que não seja possível, ou, pelo menos, nada que dependa dos sentimentos e das emoções humanas. Jorge Luís Borges comentou certa vez que os romances psicológicos o entediavam porque neles as atitudes mais implausíveis tinham plena justificação dramática: “suicidas por felicidade, assassinos por benevolência, pessoas que se adoram a ponto de se separarem para empre, delatores por fervor ou por humildade...”

Pois é: acreditei. E olhe que em todo o “affair” da separação dos Beatles sempre fui um defensor de Yoko, a quem absolutamente não responsabilizo pelo fim da banda. O problema ali era a administração caótica deixada por Brian Epstein, a ingenuidade financeira dos meninos, e muito oba-oba regado a LSD. A incompatibilidade das esposas, Yoko e Linda Eastman, pode ser sido uma mera gota dágua. Dizem que Yoko é feia e canta mal, mas, e daí? Queriam que um cara como Lennon casasse com quem – com Sandy? Yoko é uma artista competente, dentro dessa coisa nebulosa que é a arte conceitual; e, aqui pra nós, passei uns 20 anos plagiando os poemas dela em Grapefruit, excelente livro.

A gente acredita porque sabe que todo mundo é capaz de tudo. Nunca tenhamos certeza, amiguinhos. Nós mesmos, volta e meia, estamos fazendo coisas que jamais imaginaríamos. Percebi isto quando vi um clássico no “Amigão” em que Pedrinho Cangula jogou pelo Treze, e Carioca jogou pelo Campinense. Não precisa mais nada para me provar por a + b que nada é impossível, que nunca devemos ter 100% de certeza, que em qualquer situação humana o “efeito Ono-Chapman” está de emboscada, pronto para puxar o tapete sob nossos pés e nos levar ao inferno ou ao paraíso.

Nenhum comentário: