(Spy vs. Spy, de Alex Prohias)
Eita, que a Paraíba velha de guerra anda pipocando de polêmicas! Nem quero me meter muito, porque nessas horas sempre sobra uma bala para os bem-intencionados. Uma polêmica cultural é uma coisa bem vinda, é sinal de vitalidade, de que as pessoas se motivam a discutir idéias, a comparar opiniões. De repente alguém diz alguma coisa que bota todo mundo em polvorosa, uns contra, outros a favor; uns ficam jogando lenha na fogueira e outros água fria na fervura, e no final, se tudo corre bem, discutiu-se uma porção de coisas que de outra forma talvez tivessem resvalado para o anonimato das coisas esquecidas.
Polêmica literária parece muito com briga de casal, onde se começa a discutir porque a conta da luz veio muito alta e daí a dez minutos está se passando a limpo um ciúme mal resolvido de cinco anos atrás. Eu atribuo isso ao fato de que, grosso modo, existem dois tipos de pessoas: os que se animam a discutir assuntos porque se interessam pelas idéias envolvidas, e os que o fazem porque esse assunto lhes desperta emoções intensas. Chamemo-los de os Racionais e os Emotivos. Os Racionais, em geral, conseguem se distanciar do que discutem: analisam, examinam, distinguem diferenças, apontam falhas no raciocínio do interlocutor, procuram o tempo todo manter a coisa no plano teórico. Os Emotivos jogam-se de peito aberto no campo de batalha, dão preferência às frases de efeito e aos epítetos sarcásticos. Fazem generalizações abruptas e afirmações bombásticas, em rápida sucessão, para não dar tempo a que alguém lhes peça comprovantes.
Lendo a descrição acima, caro leitor, deve ficar bem claro a qual dos grupos eu julgo pertencer, não é mesmo? Sossegue, porque todos nós pertencemos a ambos, de acordo com o envolvimento que temos com o assunto. Para mim é facílimo ser racional ao discutir “Os Lusíadas”, mas se a conversa derivar para a ficção científica brasileira, assunto que me toca bem mais de perto, corro o risco de daí a pouco estar discutindo, nelson-rodriguianamente, com “o olho rútilo e o lábio trêmulo”.
Toda polêmica seria uma coisa boa se conseguisse estabelecer uma verdade consensual, mesmo provisória; um equilíbrio de opiniões que pudessem, mesmo que temporariamente, ser encampadas e avalizadas por todos os envolvidos. Os políticos (essa classe tão vilipendiada por nós, arcanjos incorruptíveis da torre-de-marfim da Grande Arte) são mestres nisso, nessa arte zen de encontrar o ponto de equilíbrio ideal entre vontades antagônicas e interesses conflitantes. Polêmicas literárias muitas vezes só resultam em escoriações generalizadas no Ego e hematomas no amor próprio dos participantes. Polêmicas deveriam alcançar (eita, como é bom teorizar no abstrato!!), se não um consenso, pelo menos uma nitidez maior nos termos do debate, uma visibilidade maior dos polos de contradição envolvidos. Quando uma polêmica acaba, devemos pelo menos saber quem estava defendendo o quê, e por quê. Do jeito que anda o mundo, é lucro.
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