sexta-feira, 18 de junho de 2010
2162) Alan Alda e a Internet (11.2.2010)
“De que modo a criação da Internet modificou sua maneira de pensar?” Esta é a pergunta que a revista eletrônica Edge propôs a um grande número de cientistas, artistas, etc. Talvez as respostas de cientistas ilustres tenham mais profundidade e mais alcance, mas em enquetes amplas como esta minha primeira curiosidade vai para as respostas das pessoas que sei quem são, e que muitas vezes são leigos bem intencionados, como eu mesmo. Talvez seja este o caso de Alan Alda, ator e diretor de TV e cinema, mais conhecido pelos papéis que interpreta nos filmes de Woody Allen, de quem é grande amigo. Alda é aquele sujeito alto, de nariz aquilino, que fala pelos cotovelos, e em geral faz papel de salafrário bem-sucedido, matando Allen de inveja e de complexo de inferioridade.
Alan Alda responde à enquete com algo que já havia passado pela minha cabeça e provavelmente pela de alguns leitores. Diz ele que não é muito chegado a conversas pelo telefone, e que assim que a Internet surgiu, e com ela o e-mail, isso se tornou o substituto ideal para a comunicação telefônica. O problema, diz ele, é que “pelo menos uma vez por dia eu tenho que parar e ficar pensando se aquilo que escrevi e mandei pode ser mal interpretado. Num email, não existe a modulação instantânea da voz que, ao telefone, pode corrigir um tom de voz inadequado”.
Todos nós já passamos por isto, mas acho que acontece com mais frequência com pessoas que nunca foram grandes escrevedoras de cartas (no tempo da máquina de escrever, e das cartas via postal) mas agora comunicam-se constantemente por mensagens escritas. Falta às vezes um certo jogo de cintura, e as frases lhes saem um pouco duras demais, soam arrogantes, frias, e podem ser mal recebidas do outro lado. Foi justamente por isto que a comunidade internética inventou os emoticons, para colorir emocionalmente o que talvez tenha sido dito de modo muito seco. Os emoticons dizem: “estou rindo, estou fazendo cara de desapontamento, estou boquiaberto, estou fazendo uma careta de raiva...” Diz Alda que o problema maior se deve à rapidez com que escrevemos emails ou textos em tempo real, o que nem sempre nos permite revisar com cuidado o que foi dito.
Outro aspecto que ele aponta é a multiplicação de informação vazia: “A Internet conectou tantos milhões de pessoas em multidões anônimas que é possível criar a impressão de que algo é verdade pela mera quantidade de pessoas que repetem aquilo”. Ele compara esta situação com o fato de que, na falta de maiores informações, sempre preferimos um restaurante cheio do que um vazio, embora isto não seja garantia de que a comida dali é melhor. O principal sintoma disto, acho, são os textos apócrifos (poemas “de Borges” ou “de Garcia Márquez”, artigos atribuídos a Jabor ou a Veríssimo). Ninguém me tira da cabeça que daqui a mais alguns anos será impossível extirpar esses textos de qualquer edição das Obras Completas dos infelizes não-autores.
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