sexta-feira, 18 de junho de 2010

2163) “Repo Man: A Onda Punk” (12.2.2010)



Vi este filme de Alex Cox, feito em 1984, na TV aberta, e nunca o esqueci. Revi agora na TV a cabo, e ele continua bom, um quarto de século depois, embora não tenha me produzido a mesma impressão da primeira vez. É um filme B (produção entre-amigos, meio “não-tem-tu-vai-tu-mesmo”) misturando elementos de ficção científica e espionagem aos filmes sobre juventude punk. Seus personagens são rapazes e moças desocupados, com pouca instrução, que se entregam à bebedeira, à droga, aos pequenos crimes e a “bicos” ocasionais de trabalho. Otto (Emilio Estevez) é um desses rapazes, que meio por acaso torna-se um aprendiz de Repo Man, o sujeito encarregado de tomar de volta, na marra, os automóveis cujos donos atrasaram as prestações. E seu instrutor é Harry Dean Stanton, o ressequido e encovado protagonista de “Paris, Texas”.

A FC entra na história de maneira oblíqua e gratuita (no bom sentido): um dos carros que os Repo Men estão tentando reaver foi roubado na região de Roswell, e traz na sua mala alguma coisa de procedência alienígena que carboniza instantaneamente qualquer incauto que levante aquela tampa. Há um longo e surrealista diálogo em que dois personagens estão queimando lixo num tonel, para se aquecer, e um deles dispara um arrazoado explicatório sobre os discos voadores e sobre os desaparecimentos inexplicáveis de pessoas, principalmente na América Latina. Segundo ele, os discos voadores são máquinas do tempo, e abduzem as pessoas para levá-las ao Passado. Essa típica argumentação de maluco é conduzida de maneira lacônica e hilária pelo ator Tracey Walter. É uma daquelas teorias da conspiração que sempre fizeram tanto sucesso entre hippies, punks, drogados e malucos em geral, e que autores como William Burroughs e Philip K. Dick consagraram como um dos grandes temas literários do século 20 (não estou brincando).

Repo Man não chega a ser um grande filme. Há muitas cenas em que nada acontece; do meio para o fim, se transforma numa daqueles filmes em que quatro ou cinco grupos diferentes perseguem a mesma coisa e a gente acaba sem saber quem está contra quem e a favor de quem, e quem sabia que alguém já tinha feito ou impedido alguém mais de fazer alguma coisa e quando. Além do mais, abusa do onanismo automobilístico a que os americanos não resistem, com intermináveis perseguições de automóveis cantando pneus e esbarrando uns nos outros. Mas pretendo comprar o DVD para me deliciar com sua qualidades. A história é improvável como história e por isso mesmo extravagantemente realista; os diálogos cortantes e surpreendentes; as mini-piadas contra a América Oficial, que o costuram do começo ao fim; os “non sequitur” constantes, que não deixam o espectador ligar o piloto automático; o retrato do subsolo do Sonho Americano na Era Reagan, onde fervilhavam alienígenas, punks e drogados, para quem ousasse acreditar em sua existência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Um dos melhores filmes a respeito de Los Angeles ou seja , Lost Angles...