Certas palavras têm uma história fácil de traçar. A palavra “maracutaia” era uma expressão antiga e obscura, usada na região de Garanhuns; mas pulou triunfante para as vitrines do Aurélio depois que Luiz Inácio Lula da Silva, candidato a presidente em 1989, usou-a numa entrevista. Como já havia um enorme desgaste (pelo uso freqüente) de termos como negociata, falcatrua, trambique, etc., o vernáculo acolheu de braços abertos a recém-chegada. E quem não se lembra do ex-sindicalista e ex-Ministro do Trabalho Rogério Magri, um Severino Cavalcanti com físico de Schwarzenegger? Um belo dia ele declarou que uma determinada Lei era “imexível”, o que lhe valeu injustas gozações por parte de algumas pessoas, como se a língua brasileira não fosse produto coletivo de gente com o mesmo nível cultural do hercúleo Ministro.
Passei batido e não registrei a data em que a palavra “paradigma” entrou no futebol brasileiro, mas não duvido que tenha sido na década de 1980, e lanço aqui meu palpite triplo sobre o seu inaugurador: Sebastião Lazaroni, Paulo Autuori ou Vanderlei Luxemburgo. Volta e meia lá vem um deles (ou seus seguidores estilísticos, como Oswaldo de Oliveira ou Levir Culpi): “Nosso time precisa mudar de paradigma, porque não está valorizando a posse de bola...” Modelos e atrizes também declaram, peremptórias: “Achei que era a hora de adotar outro paradigma, e pintei o cabelo”.
De minha parte, fui apresentado a este vocábulo no livro de Thomas S. Kuhn A estrutura das revoluções científicas (Ed. Perspectiva, SP, 1982), livro tão genérico que pode ser entendido até por um sujeito sem formação científica como eu. Para Kuhn, paradigma é um conjunto de noções consensualmente aceitas por uma comunidade científica. É a “verdade dos fatos” que vigora naquele momento específico, mas que pode ser substituída, se aparecer uma explicação melhor. Um paradigma geralmente é aceito porque ao surgir responde um número satisfatório de questões que estavam pendentes, e com isto atrai um número expressivo de seguidores. Por outro lado, esta nova situação gera novos problemas, que irão manter os cientistas ocupados pelos anos seguintes, e poderão ser (em tese) solucionados futuramente pelo surgimento de um novo paradigma, mais completo e mais satisfatório. Exemplos clássicos disto são, na astronomia, o paradigma Geocêntrico (o Sol gira em torno da Terra) que vigorou durante séculos, mas quanto mais as observações astronômicas evoluíam mais os cálculos “não batiam”, se ele fosse tomado como ponto de partida. Surgiu então, com Copérnico, o paradigma Heliocêntrico (a Terra gira em torno do Sol), e de um momento para outro todos os cálculos e todas as observações diretas se encaixaram às mil maravilhas.
Um paradigma é o chão onde os cientistas pisam; é a crença fundamental que faz sua atividade ter sentido. Para destruí-lo, é preciso substituí-lo por outro, para que a Ciência não venha a boiar no vácuo do Absurdo.
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