A revista Caros Amigos de junho traz uma reportagem de capa com Juca Kfouri, jornalista esportivo de São Paulo que, segundo ele próprio, sofre dezenas de processos civis e criminais movidos por pessoas que vão desde Ricardo Teixeira, presidente da CBF, até Marcelinho Carioca, o folclórico craque ex-Corinthians, atualmente no Vasco. Li porque gosto da revista e do entrevistado, mas as matérias de Juca Kfouri sempre me deixam meio deprimido. É que no futebol o que me seduz é a festa das torcidas, a dramaticidade das emoções contraditórias, a beleza dos gols e das jogadas de gênio. Ou seja: a arte e o drama do jogo de bola. Mas Juca Kfouri (que aprecia isto tudo tanto quanto eu) vai mais além. Ele discute a política do futebol.
É como você ter uma Ferrari maravilhosa, que passa na rua, escarlate e longilínea, arrancando fiu-fius da galera, aí você pára e abre o capô, para mostrar como ela funciona. Revela-se, aí, o lado sujo e sórdido do automobilismo: engrenagens rudes e toscas, feitas de um ferro abrutalhado, “meladas de óleo”, tresandando um insuportável fedor de gasolina. A magia e a arte vão para o espaço: estamos diante da dura realidade de como os carros se movem.
Assim é o futebol. Briga de cachorro grande, e a cachorrada não é pouca. Foi-se o tempo em que Nilton Santos, já campeão do mundo pelo Brasil, pegava o ônibus para ir treinar no campo do Botafogo. Vejam bem: não morro de saudades desse tempo. Admiro a simplicidade da geração de Nilton Santos, mas imagino que todos os craques daquela geração gostariam de ter ganho salários mais justos. O problema com o Brasil é a nossa mania de 8-ou-80. O que se vê hoje em dia é uma indústria gigantesca em torno dos nossos boleiros, que são jovens, em geral são pobres, e de repente se vêem diante de verdadeiras fortunas de um dinheiro que não conseguem dimensionar. E o jovem craque, das duas uma: ou é farrista e torra o dinheiro todo em uísque, carro-do-ano e rapariga, ou então é um rapaz honesto, arrimo de família, mas a pressão em seus ombros não é menor, porque tem que dar casa para os pais, casa para os irmãos, pagar os estudos dos sobrinhos, pagar plano médico para algumas dezenas de parentes, montar escolinha para tirar da rua as crianças de sua cidade, e por aí vai.
As seduções são muitas, e o dinheiro que rola é um Amazonas. Sou um crítico feroz dos salários extravagantes do nosso futebol. O Flamengo pagar 80 mil mensais para Obina? Tenha santa paciência. Mas pior ainda é a Máfia dos empresários, dos cartolas, dos dirigentes que levam na mão grande o dinheiro das bilheterias, das negociações escusas de contratos, patrocínios e vendas de jogadores. Juca Kfouri cita o caso de um jogador que ele criticou por se fazer acompanhar de um empresário pouco escrupuloso. O atleta aceitou a crítica e disse: “Eu sei, Juca, mas pra negociar com bandido eu preciso de um que seja tão bandido quanto eles”. Brazil-ziu-ziu!
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