O que faz um boa livraria? Duas coisas são óbvias: repertório e ambiente. A livraria tem que ter coisas que nos dêem vontade de comprar, e tem que ser um lugar agradável que nos dê vontade de ficar ali por muito tempo. (Observe que, em princípio, estas qualidades beneficiam tanto o livreiro quanto o cliente) Nos últimos anos as melhores livrarias daqui do Rio de Janeiro vêm ampliando seus serviços: são livrarias-café, livrarias com auditório para debates ou palestras, livrarias onde é possível pegar um livro, sentar numa poltrona e ler durante uma hora sem que um balconista ansioso venha nos perguntar “se queremos alguma coisa”, ou, pior ainda (caso que já sucedeu mais de uma vez comigo) para avisar que “se quiser ler vai ter que comprar”. Se isto lhe ocorrer um dia, leitor, recomendo-lhe: nunca mais passe sequer na calçada.
Uma livraria não vende apenas objetos, vende também a sensação de que o cliente está compartilhando um espaço mental com pessoas cuja presença ali é meramente simbólica. A livraria é um ponto de encontro de pessoas (como o foram durante tantos anos as saudosas Livraria Pedrosa, em Campina, e Livro-7, no Recife), um espaço de convivência, uma praça com estantes no lugar de árvores e balcões em vez de jardins. Um lugar onde conversamos sobre política, futebol, mulheres, religião, cinema, e, inevitavelmente, sobre livros.
A livraria deve também atender encomendas. Já observei que na maioria delas o sujeito entra, procura o livro tal; não tem, ele agradece, e vai procurar em outra. Me admiro quando as pessoas se queixam de que não encontram meu livro na livraria. Ora, quando um leitor precisa de um livro e não o encontra, basta encomendá-lo. Leitores constantes costumam levar listas de livros às livrarias que freqüentam, e estas telefonam avisando quando o livro encomendado chegou. Esta, infelizmente, é uma relação pouco freqüente no Brasil. O leitor parece desconhecer que tem o direito de encomendar; e o livreiro não tem interesse em pedir um exemplar apenas.
Livrarias dos EUA costumam promover sessões de leitura com autores, e não entendo como é que essa moda não pegou aqui no Brasil, tão solícito em importar as jogadas-de-marketing alheias. Um escritor, ao lançar um novo título, programa juntamente com a editora uma turnê por 20 ou 30 cidades, e em cada uma delas comparece a uma livraria local, onde lê trechos do livro e depois debate com o público, responde perguntas, e por fim dá autógrafos. Aqui no Brasil, só assimilaram a parte mais boba – a do autógrafo.
Um bom ambiente faz com que o cliente se demore mais, volte mais vezes, traga outras pessoas. A livraria não é uma mera loja de vender livros como há lojas de vender parafusos ou sapatos. É como um bom restaurante, que não se limita a vender pratos de comida: ele faz da refeição um ritual de convivência, de bem estar, um ponto de encontro de amigos, uma oportunidade para conhecer novas pessoas.
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